Nauru, uma ilha à deriva

Fernando Eichenberg, Terra Magazine

"Ao se aventurar na direção de filmes documentários, Juliano Ribeiro Salgado confessa que sentiu a carga de seu DNA. Filho de Sebastião Salgado, consagrado fotógrafo reputado internacionalmente, ele admite que não foi fácil se desvencilhar da sombra paterna e do peso do sobrenome em seus primeiros passos com uma câmera na mão: "Isso me botou muita pressão numa época. As pessoas esperavam muito de mim, achavam que logo teria se ser tão bom ou melhor do que ele. Tinha medo de fazer errado, de não conseguir, mas acabei me liberando disso. Demorou um tempão, mas depois as coisas ficaram bem mais fáceis".

Seu último documentário, Nauru, uma ilha à deriva, é uma prova material de sua superação, com brio, da desconfortável comparação com o pai famoso. Em 1h30min, Juliano revela com sensibilidade autoral personagens da trágica e curiosa história recente de Nauru, pequenino ponto isolado nas águas do Oceano Pacífico. Pouco ou quase nada se ouviria falar dessa ilha de escassos 21 mil quilômetros quadrados, independente desde 1968, não fosse a singularidade de seu recente passado. Classificado como o terceiro menor país do mundo (depois do Vaticano e do Principado de Mônaco), por muito tempo Nauru viveu a opulência proporcionada por um status cobiçado por qualquer nação: o de segundo maior PIB por habitante do mundo.

A minúscula ilha devia sua extrema riqueza à exploração de um então valoroso mineral, o fosfato, abundante em seu subterrâneo. Por vinte anos, os nauruanos mergulharam num consumismo desmesurado e o governo despendeu com facilidade o farto dinheiro do caixa. Nauru criou sua própria companhia aérea, a Air Nauru, composta por meia dúzia de boeings 737, e uma frota de navios cargueiros. Todo tipo de comida enlatada era importada dos Estados Unidos. O esbanjamento incluiu até a produção de um musical sobre Leonardo da Vinci, em Londres, em 1995 (Leonardo: a Portrait of Love foi um fracasso e saiu de cartaz quatro semanas depois da estréia). A prosperidade também atraiu a corrupção. A máfia russa usou a ilha para lavagem de dinheiro num montante estimado em até U$ 70 bilhões.”
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