Michael Jackson e a fabricação de si mesmo

Paulo Costa Lima, Terra Magazine

"Homens promovidos ao estado de produto"

“Mais do que qualquer característica pontual - voz, repertório, gênero - a construção de Michael é o personagem. Seus clips provam isso. E que personagem seria esse? Por que exerce um tal magnetismo?
Podemos evocá-lo facilmente através do estilo de movimento, uma cinética toda especial, uma dança eletrizante mas aparentemente disforme, dança sem lei que faz o corpo andar para trás, amolecer que nem borracha, deslizar sem gravidade. As crianças piram: seria um Chaplin trans-figurado pela pós-modernidade?

Esse personagem que canta e dança, atrai para si os adereços mais incríveis. Na verdade ele configura o corpo como adereços - e naquele famoso sacolejo de quadris que sempre emoldura uma pegadinha radical, parece nos dizer que o próprio pênis é um adereço -, existiria irreverência maior? Aponta para uma sociedade do adereço?

Com isso, personifica a rebeldia e a "aventura" na terra do sem-limite, sua never-land interior, seu rancho permanente, de onde nunca pôde sair. Preso a um intrincado processo de fabricação artificial de si mesmo - impedido de seguir o caminho da identificação com um pai violento - transforma essa auto-fabricação, suas misérias e delícias, no foco de atenção midiática. E faz isso de forma incomparável com o talento que tem.

Repete compulsivamente esse fantasma de que não há pai, de que ele se inventa sozinho - tal como seu personagem. Seu magnetismo viria dessa aparente libertação (projetada por um talento incomum)? Olha que isso vale tanto para a dimensão ficcional como para o MJ real, que apresenta seu filho ao mundo de maneira esdrúxula, do alto de um hotel. Aparentemente não há registro do que é um filho. Como poderia haver?
Artigo completo, ::Aqui::

Comentários

Unknown disse…
Será isso mesmo??Seu texto me fez pensar muita coisa...
Gostei de lê-lo.

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