Tesoureiros de Deus

Brasigois Felício, Revista Bula

“Pequenas igrejas, grandes negócios”. Mais verdadeiro do que este brocardo, no alvoroçar da safra de empresas que vendem a peso de ouro a promessa de salvação, só inventando outro. As empresas da fé começam com pequenas portinholas — e de tanto vender prosperidade líquida e certa, em fogueiras que se dizem santas, logo estão bombando, obrando em dinheiros sem conta, a espalhar filiais por toda parte, inclusive nas estranjas, tais como oligopólios ou multinacionais, presentes onde hajam consumidores para seus produtos. No caso, o produto mais procurado, que não tem prazo de validade, nem necessita ser licenciado pela vigilância sanitária, é a salvação eterna.

Nada a espantar se o milionário negócio da fé ampliar-se e repartir-se em nichos de mercado, chamados de filés, por garantirem lucro em cascatas, visto ser cativa a freguesia, constituída de inquilinos com cadeiras cativas no céu. E neste nicho empresarial a educação vem na ponta, visto ser necessidade essencial, sem a qual a sociedade entra em estagnação de pântano.

Caminhava por uma avenida nas imediações do Parque Vaca Brava, em Goiânia, em priscas eras espessa mata nativa, constituindo-se em paradisíaca da verdolenga Goiânia. No lugar onde se erguiam grandes e frondosas árvores, até com pequizeiros, remanescentes do bioma campo, um dos braços do cerrado, só desolação de grandes raízes arrancadas, voltadas para o sol. Onde só o verde havia, só aridez ficou.

Por lá, nos idos da minha infância, deambulei, com meus espantos, nirvanado bucolismo, mais parecendo a paisagem um paraíso terrestre. Da Campininha das flores até o alto Macambira (hoje chamado de Setor Pedro Ludovico, pelos esnobes, que rejeitam a denominação que lembra a pobreza a população pobre, a que chegou em tempos de vacas magras, tendo que andar léguas, para acessar um manancial, ou furar poços, para acessar o bem essencial da água.

Nisto vi um homem, ao lado de uma dessas camionetes que falam línguas estrangeiras, e proferem sermões. Era um biliardário tesoureiro de Deus. Sua igreja tem filiais até nos States. Anda cercado de seguranças, anda em Mercedes blindada, e tem votos e dinheiro grosso para eleger parentes e aderentes a qualquer posto de mando. E nisto já em mandando bala, com gosto de pré-sal antecipado. Engomado e engravatado, falava ao celular, cercado de placas de propaganda da nova instituição de ensino que ali será erguida, sob os auspícios da próspera empresa religiosa que preside, em fausto de executivo do Banco Lehman Brothers antes de trabalhar contra si próprio, em bamburro ao contrário.”
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