The book is on the table


Alberto Villas, CartaCapital

“Confesso que fiquei muito assustado quando entrei pela primeira vez naquele casarão do século passado, mais precisamente na sala de número 4 do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Minas Gerais, na Rua Carangola 288, para assistir a primeira aula de inglês, logo eu que não sabia o que era yes, o que era no.

Se algum dia muitos anos depois alguém me pedisse um retrato falado de Mister Élcio não seria nada difícil. Era um homem de meia-idade, uns quarenta e cinco cinquenta anos, cabelos grisalhos, orelhas grandes, sobrancelhas bem fechadas, bigode farto, boca fechada, sisuda. Era um homem que vestia sempre o mesmo terno cinza, ninguém sabia se era único ou se tinha vários ternos cinza todos com o mesmo corte, o mesmo modelo. A camisa era branquinha, limpa, engomada, muito bem passada. A gravata era azul marinho, as meias pretas e os sapatos também pretos.

Mister Élcio era um professor de inglês que não ria nunca, ninguém nunca o viu esboçando uma ameaça de sorriso. Mister Élcio não era de conversa, chegava na sala de aula e a primeira coisa que fazia era colocar uma pasta de couro em cima da mesa e imediatamente começar a apagar o que estava escrito no quadro negro, não importava o quê. Tratava-se de um homem metódico, sistemático mesmo, que começava a apagar o quadro negro sempre pela esquerda e ia apagando bem devagar até deixá-lo limpinho.

Mister Élcio abria a caixinha de giz de várias cores e começava a escrever sem parar tudo em inglês. No final ele dava o recado em duas palavras: Tomorrow, test. Ninguém sabia nada sobre Mister Élcio, nem mesmo o seu sobrenome. Era Mister Élcio e só e pronto. Se era casado, se tinha filhos, onde morava, se tinha cachorros ou gatos, o que comia, que músicas ouvia, que livros lia. Mister Élcio era um poço de mistério, uma pedra.”
Artigo Completo, ::Aqui::

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