Inferno e brilho de uma cultura


Durante os anos sessenta e setenta eclodiram dois fenômenos mundiais de contestação ao sistema estabelecido, as revoltas populares, especialmente a estudantil, e o chamado movimento hippie.

Eduardo Bomfim, Vermelho

Os primeiros lutavam por modificações estruturais no ensino, contra os regimes sociais existentes, os resquícios do colonialismo clássico ainda remanescentes, as ditaduras militares que brotavam como praga nos Países do terceiro mundo.

Os adeptos do movimento hippie batiam-se por mudanças pacíficas no interior desse sistema defendendo uma espécie de cultura alternativa principalmente em relação à sociedade de consumo, às manifestações de autoritarismo, à censura, aos costumes, etc.

Nessa época muitas nações oprimidas pelo colonialismo ou o imperialismo lograram significativas vitórias especialmente nos continentes africano e asiático. Tudo isso influenciou profundamente a sociedade americana, especialmente a guerra contra o Vietnã.

Diz o veterano jornalista norte-americano Mikal Gilmore da revista Rolling Stones que a força dessas ideias adquiriu tal magnitude nos EUA que nas décadas seguintes os vários governos tiveram entre os seus objetivos estratégicos internos o aniquilamento das organizações, a cooptação ou esmagamento político das lideranças, artistas e destacados intelectuais americanos, uma reedição do macartismo que vigorou por lá nos anos cinquenta.

Talvez essa denúncia de Mikal Gilmore também sirva para nos explicar a pobreza da atual geração de intelectuais e artistas dos Estados Unidos, com as óbvias exceções, a incrível ascensão da cultura do escapismo e da paranoia generalizada.

Hoje há uma aguda crise internacional do capitalismo na Europa e nos EUA, o neoliberalismo fracassou enquanto doutrina, cresce a tendência de uma outra ordem mundial com a emergência dos BRICS e surgem, ainda incipientes, os movimentos populares de resistência em várias cidades americanas.

No entanto o complexo militar-ideológico-midiático, o capital financeiro global e o reacionarismo imperial intervencionista detêm a hegemonia tanto interna quanto em escala mundial.

Mas como a História segue o seu curso é possível que o berço de uma das grandes culturas contemporâneas recupere o vigor, brilhantismo e talento que sempre possuiu salvo quando as suas elites a arrastaram para o inferno moral e a depressão intelectual.”

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