"Parto hoje de
um artista de grande mídia, mas que me serve ao propósito de falar da luta arte
x capital. Pois assim como a tevê nos usa, na medida em que ao falar dela
fazemos-lhe propaganda, cabe a nós também usá-la para fins que ela não queria. Como
tento a partir de agora.
A entrevista do ator Pedro
Cardoso no programa Na Moral tem momentos que um filósofo diria serem
universais. Na ocasião, discutiam os fotógrafos paparazzi, que devassam
momentos íntimos dos artistas para os olhos de todo o mundo. Ali, no conhecido
recurso da criação caricatural, no rádio e na tevê, que inventa o bandido
e o artista de mentirinha, o cinismo de Bial em vídeo anuncia o inimigo
“númuro” 1 dos paparazzi. Então entra Pedro Cardoso.E vem a primeira nota fora
do script, porque o artista assim fala:
“Aqui falta o personagem
mais importante nessa discussão, falta o capitalista.... Há uma enorme
distinção entre os fatos da minha vida privada e os fatos que são públicos.” Ao
que intervém Bial: “Mas seguindo o seu raciocínio, o empresário busca o ganho,
pra evitar a palavra lucro”, isso o Big Brother fala, com a cara de nojo mais
fingida. E continua: “O empresário quer vender revista. As pessoas
compram essas revistas. Esses sites são os mais acessados, os sites de
celebridades”. Ao que responde Pedro Cardoso, com raro brilho: “É, os alemães
também compraram o nazismo por esse teu raciocínio. A sociedade tem
demandas, mas nem todas as demandas da sociedade são a saúde dela”.
A primeira surpresa nessa fala de Pedro
Cardoso é a palavra “capitalista”, que nunca se ouve ou se vê na tevê e no
rádio, banida que está como um sonoro palavrão. O que bem entendemos,
pois ladrões não têm o costume de se chamar pelo nome. A segunda surpresa é o
recuo histórico que faz até o rosto de horror do capital, a violência nazista,
para iluminar o conceito de que nem toda demanda social é boa para a saúde de
toda a gente. Isso numa emissora que vive do ibope como um tumor que vive de
nossas forças de vida, é um achado. Se liberdade de fato ele tivesse, diria que
o dano humano das telenovelas é proporcional a sua audiência. Que o próprio
engenho da Globo somente foi possível com a ditadura, como uma vez me declarou
Dina Sfat, numa entrevista no Recife.”
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