Gabriel García Márquez dissecado


Euler de França Belém, Revista Bula

“O ensaísta Enrique Krauze diz que obra do escritor colombiano falsifica a história de sua família, louva o ditador-tutor Fidel Castro e contribui para legitimar o regime comunista de Cuba

O nobelizado Gabriel García Márquez é uma espécie de Louis-Ferdinand Céline da esquerda. Mas há duas diferenças. Primeiro, o autor de “A Incrível e Triste História da Cândida Erêndira e Sua Avó Desalmada” não fez campanha para liquidar indivíduos ou povos. Segundo, se García Márquez usa subterfúgios para apoiar ditadores, escondendo-se atrás de textos e declarações às vezes ambíguos, Céline era preciso na sua crítica e combate aos judeus. Não sabia fingir. A anuência de Gabo com o regime serial killer de Fidel Castro e do escravo mental deste, Raul Castro, é conhecida. Quando escritores cubanos eram (e são) perseguidos pelo regime comunista, García Márquez silenciava, ao menos publicamente, como no caso do poeta Heberto Padilla. O autor colombiano diz que, em particular, “defendeu” algumas vítimas do regime. Quais, não esclarece, mas é possível que esteja dizendo a verdade. No campo estrito da literatura, não há dúvida que, se não é inventivo como James Joyce, Faul­kner, Guimarães Rosa e mesmo Julio Cortázar, e se não tem uma visão mais abrangente da sociedade, como Mario Vargas Llosa, é um excelente escritor tradicional, um Jorge Amado talvez um pouco mais raffiné ou imaginativo, um fabulista ao estilo de La Fontaine ou, quem sabe, Andersen. “Cem Anos de Solidão” e “O Amor nos Tempos do Cólera” são grandes romances, como “A Montanha Mágica”, de Thomas Mann, ainda que de escopo diferente — mais naif e menos intelectual — do livro do alemão. São clássicos que se tornaram uma espécie de imaginário coletivo. Vargas Llosa, filho de Flaubert que leu Faulkner, constrói sua obra literária com tanto refinamento que, às vezes, o leitor percebe as pilastras sólidas da arquitetura. García Márquez pratica uma literatura, digamos assim, mais “natural”, “espontânea”. Na verdade, um certo desleixo é apenas aparente, assim como a naturalidade. É fato que parece um escritor menos artificial e mais populista do que o peruano — o que agradou o historiador Perry Anderson. No ensaio “Lembranças tropicais: Gabriel García Márquez”, publicado no livro “Espectro” (prova que a esquerda pode ser inteligente e questionadora), o marxista britânico compara o autor de “Ninguém Escreve ao Coronel” a Vargas Llosa, tentando sugerir certa objetividade, mas desfavoravelmente ao criador de “Conversa na Catedral”. Para uma leitura perspicaz da prosa e do próprio García Márquez, recomendo o ensaio “Gabriel García Márquez — À Sombra do Pa­triar­ca”, inserto no livro “Os Reden­tores — Ideias e Poder na América Latina” (Benvirá, 606 páginas, tradução de Magda Lopes, Cecília Gouvêa Dourado e Gabriel Fe­dericci), do jornalista, ensaísta e historiador mexicano Enrique Krauze, parceiro de Octavio Paz na criação da revista “Vuelta” e professor convidado de Oxford. Como não leu Krauze, a análise das memórias de García Márquez feita por Anderson acaba por ser limitada.”
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