Urariano Mota, Direto da Redação
“Nesse 31 de agosto, completa 66 anos o gênero de texto que se
convencionou chamar de jornalismo literário. Informa a Wikipédía que o “seu
nascimento é creditado por volta de 1946, quando a edição da revista The New
Yorker, de 31 de agosto de 1946, dedicou toda a edição para publicar o que se
tornaria uma das principais referências em jornalismo literário: Hiroshima, de
John Hersey”. E mais diz: “um artigo da revista da Intercom (Sociedade
Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação) mostrou o resultado de
uma pesquisa com leitores. A mesma notícia foi exibida de quatro formas
diferentes. Quando perguntados qual daquelas escritas eles mais gostaram, em
primeiro lugar ficou o Jornalismo Literário, em último, o lead”.
As informações da wikipedia
vêm assim, meio sobre o estilo truncado. Mas boa de registro ela é, porque dão
mote e nos salva do sufoco de mais uma coluna. E por isso anoto a seguir duas
ou três coisas.
Bem antes do “jornalismo
literário” se reconhecia que um texto jornalístico poderia ser grávido de
poesia, e de tal maneira que não se encontrava em muitos poemas. Mas já então
havia a pergunta, em trabalhos acadêmicos: - Esses textos, grávidos de
poesia, seriam ainda assim um texto jornalístico? - Claro, como gênero, são
poesia. Como meio, como mensagem publicada, são jornalismo, mas de uma
qualidade rara, e tão rara que somente mantêm o vínculo com o jornalismo pela
referência objetiva com o mundo. (O que é, reconhecemos, essa “referência
objetiva com o mundo”, um outro dado complicador, pois nesses casos, de
textos poéticos, há uma miscigenação do objetivo e do subjetivo de tal modo que
impossível é dizer em que proporções.)
O exemplo sempre levantado, quando se fala
da diferença entre escritor e repórter, é o de Truman Capote com livro A Sangue
Frio. Lembra-se isso como quem joga uma carta decisiva sobre a mesa, como quem
dá um golpe que é um nocaute, como quem arremete um míssil certeiro sobre o
avião inimigo, como quem desmascara um cego porque este viu o azul do céu de
Pernambuco. “E então, que me dizes? Eis uma reportagem que é ao mesmo tempo
um relato de excelência literária”. O que não dizem, e é deixado de lado,
oculto, como se fosse uma coisa menor, é que Truman Capote levou pelo menos 5
anos para escrever essa reportagem! E isso é um tempo impossível de se alcançar
nas redações dos jornais, que escrevem sobre o agora com o advérbio ontem.”
Artigo Completo, ::AQUI::
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