Eberth Vêncio, Revista Bula
“Ando tão a flor
da pele, qualquer beijo de novela me faz chorar...”
Zeca Baleiro
“Quando eu era criança, dentre tantos
ofícios infantis curiosos, ficava observando as mãos do meu padrinho, um homem
velho a quem amava desmesuradamente, enquanto ele e a esposa enchiam, com
esmero, uma garrafa de Crush com suco de laranja, para que eu e os meus irmãos
pensássemos fosse o famoso refrigerante da moda. Vocês sabem: quem não tem cão
caça como gato.
“Quando eu crescer quero ter mãos assim...”
— eu pensava ao acompanhar aquela fabulosa fraude doméstica, observando as suas
mãos enrugadas e macias, com moitinhas de pelos sobre as falanges.
“São mãos de médico, menino...” — explicava
a madrinha, sem desgrudar os olhos da garrafa para que o pseudo-refrigerante
não derramasse. Para agradar criança, tem gente que faz de tudo.
Finalmente eu cresci e constato agora o
quanto estão também peludas as minhas falanges. Contudo, perdi em maciez para a
dureza da adultidade. A vida é dura pra quem é mole. É o que dizem. E eu sou
mole. No duro.
Acho que ando mais a flor da pele que o
próprio Zeca Baleiro. São tantas as coisas que eu tinha a escrever que nem sei
bem ao certo por onde começar. Então vou começar dizendo o quanto eu lamento
despossuir a mesma alegria incontida de um menino a me oferecer esculturas de
balões, no hall de um Posto de Saúde infestado com germes e pensamentos
indóceis. “O desgraçado do médico está atrasado...” — reclama uma mulher gorda,
cega de um olho.
Vem à memória o adágio popular “Em terra de
cego quem tem um olho só é rei”, e eu quase rio da bravata daquela paciente,
que certamente padecia de um incômodo muito maior que o próprio mau humor ao se
sustentar dentro daquele estabelecimento tão caótico desde as primeiras horas
da manhã.”
Artigo Completo, ::AQUI::
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