As ideologias são dráculas

Euler de França Belém, Revista Bula

“O notável historiador marxista Eric Hobsbawm avalia que, depois da “libertinagem” capitalista, decorrente da “morte” do socialismo, é provável que a vaga socialista volte, e, quem sabe, com certa força. Mas possivelmente com outro matiz. O encanecido Hobsbawm (bombardeado por Tony Judt, há pouco tempo, por não reconhecer os crimes do stalinismo com a devida correção; o livro de Judt, “O Século XX Esquecido — Lugares e Memórias”, foi editado em Portugal e merece uma edição brasileira) disse isto antes do vendaval Hugo Chávez, Rafael Correa e Evo Morales. Lula é um caso específico. Mas o socialismo de Chávez pouco tem a ver com o socialismo clássico, porque seu partido é uma ficção. Pouco tem a ver com o partido leninista-comunista. O poder está “assentado” na figura de Chávez, tanto que, se morrer, o “sistema Chávez” desmorona. O regime chavista é, mais do que socialista, nacionalista, mais próximo do peronismo... com a diferença do petróleo. Porque o petróleo é o sangue que movimenta as diabruras e inconseqüências do líder venezuelano. O petróleo é a Bolsa Família do governo da Venezuela. O governo de Correa é mais inconsistente do que o de Chávez e, sem Chávez para emulá-lo, possivelmente seria uma ficção. O de Morales, nem se fala. Golpes à vista. Assassinatos no horizonte. Na Venezuela, no Equador e na Bolívia. É só esperar.

Lula, como disse, é um caso à parte. Ao contrário do que muitos assinalam, Lula é, sim, de esquerda, adepto de um socialismo que se aproxima de um misto de social-democracia e democracia cristã. Mas, como governa um país capitalista, comporta-se como gestor de uma economia capitalista. É um realista. Aproximou-se dos políticos tradicionais e, de certo modo, os tornou subordinados. Esta aproximação, que muitos tendem a ver tão-somente como fisiológica, é responsável por Lula não ter se tornado uma espécie de Chávez. O realismo possibilitou a Lula verificar que o custo de tentar implantar um regime chavista num país continental e cuja democracia é estável, com instituições sólidas (apesar de crises pontuais), seria impagável. O resultado poderia ser um golpe atrás de outro golpe (Lula tem uma gota do sangue de João Goulart nas veias). A desestabilização da política e da economia. Ao se posicionar como moderado, Lula dá provas de amadurecimento e, até agora, tem jogado dentro das regras da democracia. Aqui e ali, tenta impor alguma medida autoritária, mas, contido pela democracia, cede, o que é positivo. No espectro de esquerda, é, sem comparação, o melhor governante da América do Sul, excetuando, possivelmente, a presidente do Chile, a socialista e realista Michelle Bachelet.”
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