Acerca da arte


Flávio Paranhos, Revista Bula

“Desde há algum tempo deixei de ler Arnaldo Jabor. Pelo mesmo motivo que não leio Diogo Mainardi e até mesmo o brilhante João Ubaldo Ribeiro — tornaram-se monotemáticos, e, como tais, monótonos. Os deslizes morais do governo Lula se transformaram em fortes e irresistíveis lâmpadas acesas para os escritores-mariposas (ou seja lá que inseto for que se sente atraído por luz). Não é que eu faça parte do grupo que perdoa o mensalão e similares. De jeito nenhum. O PT acabou pra mim. Existe tanto quanto o PSDB de FHC ou o PP de Maluf. Coloco-os na mesmíssima cumbuca, não faço a mais microscópica diferença entre eles. Mas estou me desviando.

Não lia mais Jabor há algum tempo, mas li sua coluna no jornal “O Popular”, que fala sobre a última Bienal de SP. A obra de arte deve ser exaltante, defende ele, criticando as instalações com pretensas mensagens sócio-políticas. Diz Jabor: “A sensação dominante que tive foi de ruínas ou de despejos da civilização. Os trabalhos repetem os mesmos códigos e repertórios: terra arrasada, materiais brutos e sujos, desarmonia, assimetria, uma vergonha de ser “arte”, vergonha de provocar sentimentos de prazer”. [Grifo meu]

Isso me fez lembrar de Slavoj Zizek, um filósofo cuja obra gosto muito de ler, embora dele discordando várias vezes. Zizek, a cujo livro “Lacrima Rerum — Ensaios Sobre Cinema” recorri em duas colunas minhas na revista “Filosofia Ciência & Vida”, a pretexto de analisar filmes do diretor polonês Krzysztof Kieslowski, tem um estilo direto, objetivo (a não ser quando entra em terreno lacaniano) que muito me agrada. Mas desvio-me novamente. Enfim, eis do que me lembrei, quando li Jabor: “Supostamente, apreciamos a arte tradicional, espera-se que ela traga prazer estético, ao contrário da arte moderna, que causa desprazer; a arte moderna, por definição, fere. Nesse sentido exato, a arte moderna é sublime: causa prazer-na-dor, produz seus efeitos por meio do próprio fracasso, na medida em que se refere às Coisas impossíveis. Em contraste, parece que a beleza e o equilíbrio harmonioso são cada vez mais do domínio das ciências (...)” (“A Visão em Paralaxe”, Boitempo, p. 200).

Tenho pontos de concordância e discordância com ambos, Jabor e Zizek. Pra começo de conversa, não ficarei pedindo desculpas por palpitar em arte, como fez Jabor. Palpito sim, e com propriedade. A concedida pelo fato de apreciá-la. E muito. De forma que os críticos e “especialistas” vão dando licença aí, que estou passando, aprovem ou não.”
Artigo Completo, ::Aqui::

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