Estereótipos do Twitter (e do Foursquare)


Fernanda Prates, Digestivo Cultural

“Se tem algo que o Twitter me ensinou, meus amigos, é que existe um vasto grupo de coisas desinteressantes nesse mundo. E qual não foi minha surpresa ao descobrir, mais de 8 mil tweets depois, que faço parte deste desagradável bando?

Sabem, quem diria que dá pra falar tanta merda em 140 caracteres? Surpreendente. Mas cá estamos nós, nessa superação diária, ficando cada vez mais insuportáveis. O Twitter criou uma coisa de opinião compulsiva que, convenhamos, é chata pra caralho. E não estou me tirando dessa, não. Pelo contrário. Sabem, eu nunca fui de acumular fãs, sejamos bem francos, mas pessoas que costumavam me achar no mínimo inofensiva parecem ter desenvolvido verdadeiro asco pela minha pessoa graças ao Twitter. Ele mudou meu jeito de pensar? Não. Fez de mim uma pessoa pior? Não. Eu sempre fui igualmente podre. Mas antes eu precisava articular meus pensamentos podres em posts. É trabalhoso, sabem. E no meio do caminho, a tendência é repensar. "OK, isso pode soar ofensivo demais". Mas o Twitter acabou com isso na minha vida. Eu não ligo se é ofensivo demais. O Blackberry está na minha mão, a ideia na minha cabeça e, pronto, ofendi alguém. Em 140 caracteres. É tudo deliciosamente prático e eficiente e eu... Bem, eu só precisava de uma arma rápida o suficiente para libertar minha bully interior. Eu estou muito on fire.

A graça (e o problema) do Twitter é que lá é onde você começa a realmente ver a personalidade das pessoas. É meio como o BBB. Com aquela facilidade toda de falar, você acaba exibindo sua personalidade em algum momento, mesmo sem querer. Você está lá, com seu smartphone na mão, preso no engarrafamento e... Pronto. De repente, eis um tweet babaca comentando sobre a ineficiência do transporte público no Rio de Janeiro. Você não queria dizer isso, sabe. Você nunca quis ser uma dessas pessoas. Mas sucumbiu. E seus seguidores viram. Com o tempo, as fraquezas se tornam mais frequentes. As pessoas interagem. É um tal de mention e RT tentando você. Você quer ter RTs, você quer ver suas palavras ecoando. As coisas vão acontecendo e, do dia pra noite, pronto, você, é um estereótipo de Twitter. Não se acanhe, meu amigo. Estamos todos no mesmo barco. Somos todos, enfim, gigantescos estereótipos. Eles são vários. Pessoas como eu, propensas à compulsão, tendem a se encaixar em todos. E odiar a todos ao mesmo tempo. É bem confuso, na verdade.

Elaboremos sobre isso. Um dos estereótipos mais básicos é o povo Foursquare. Veja bem: claro que o povo Foursquare não posta só localização. Falo de um conceito mais abrangente. Em geral, o simples fato de uma pessoa aderir ao Foursquare já diz muito sobre ela. O povo Foursquare é um pouquinho mais sem noção que o resto, no sentido de que não se incomoda de simplesmente falar onde está. É uma coisa na qual obviamente ninguém está interessado, mas e daí? Você quer dizer onde está, sabe-se lá por quê. E diz. A pessoa Foursquare é geralmente aquela que acorda e fala "hum, sono". É aquela que sente fome e diz "hum, fome". É aquela que pode informar, sem maiores constrangimentos, que está vendo televisão. Sem nem especificar o programa, claro. Isso seria trabalhoso demais. Eu sempre recriminei o povo Foursquare, mas agora eu vejo que eles não são tão diferentes de nós, aliás. Na verdade, são até mais práticos. Não precisam nem se dar ao trabalho de digitar uma irrelevância, há um aplicativo que cuida disso tudo. Smart.

Aí, do outro lado, tem a galera da opinião. A galera da opinião está muito convencida de que, bem, tem algo importante a dizer. Eles têm um método. Geralmente atestam um fato, por exemplo: "a polícia matou não-sei-quantos. Acho chato." Vejam bem, os opinativos sentem um pouco de remorso, ao contrário dos "Foursquare". Eles tentam disfarçar a própria irrelevância com uma informação antes. Seduzem o leitor de forma a fazê-lo acreditar que aquilo ali é de alguma maneira importante. E aí, quando você menos espera... Pow!, opinião irrelevante. E eles tendem a terminar a opinião assim, com duas palavras. Talvez três. Pra aumentar o efeito de choque, sabem. Eles não vão simplesmente jogar um fato ou um sentimento. Eles vão contextualizar. E provavelmente usarão memes da década passada para enfeitar aquela opinião. Os opinativos são bem espertinhos.”
Artigo Completo, ::Aqui::

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