Eberth Vêncio, Revista Bula
“Quando eu era criança (hoje sou um cidadão semiajustado escrevendo crônicas aos 45 anos), os adultos (mulheres, inclusive) e os meus rivais infantis (meninos mais velhos que se divertiam em humilhar, castigar os mais novos), para provocarem em mim uma reação, digamos, mais firme (como não chorar, por exemplo), diziam assim: “Deixa de ser mulherzinha, rapaz!”. Nem sempre a coisa funcionava, e eu permanecia chorando de dor, medo ou raiva.
Tem várias coisas que, feliz ou infelizmente, a gente nunca esquece, a não ser quando estamos com o cérebro carcomido pela demência senil. Na rua onde fui criado morava um fedelho (hoje em dia, “criança hiperativa”) chamado Manoel, o “terror da vizinhança”, que tinha no portfólio de peraltices uma brincadeira deveras cruel: enquanto espremia os testículos da sua vítima (era sempre um garoto mais fraco) mandava que ela assobiasse. Manoel, que atualmente é um renomado veterinário da cidade, só soltava os bagos do moleque após o assobio. É claro que o sopro não saía perfeito da boca de jeito nenhum. Até hoje, quando cruzo pelo doutor Manoel nalgum canto da cidade, meus testículos se encolhem na clausura da bolsa escrotal.
Esse tipo de coisa fica cravado na memória da gente que nem prego na aroeira (é como se diz na roça), não descola fácil de jeito nenhum. Numa época em que tanto se combate o “bullying” nas escolas, lembro-me, melancolicamente, da Valéria, uma colega de Ginásio (não confundam com ginásio de esportes, meus jovens leitores; assim era denominado o Ensino Fundamental, naqueles tempos), uma menina com presumível puberdade precoce, e que tinha as tetas bem avantajadas.
Mal adentrava a sala de aula, a molecada iniciava a algazarra, mugindo como bezerros. Dá pra acreditar que colocaram o apelido de “vaca” na menina?! Creio que o único garoto que não usava a ultraodioso codinome era eu. Afinal, Valéria foi uma musa secreta (até agora), inalcançável, uma paixão doída só comparável àquela que um dia eu nutri pela professorinha da 2ª Série do Primário (de novo, Ensino Fundamental, mancebos...). Paixão platônica, covardia, é tudo a mesma coisa.”
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