Matheus Pichonelli, CartaCapital
“Alguma coisa acontece desde que o primeiro
internauta descobriu que podia comprar comida chinesa pela internet. Ou
analisar o perfil da mulher ideal e entregar de bandeja os seus segredos mais
profundos em salas de bate-papo antes do primeiro encontro. Ou baixar música de
graça, pagar conta no banco a distância ou contatar profissionais para passear
com seu cão enquanto se mantém ocupado na frente do computador.
É fato: a introdução das (já não tão) novas
tecnologias no cotidiano provocou estragos nas formas tradicionais de
relacionamento. Mas a dimensão desses estragos ainda está por ser medida em
estudos, palestras motivacionais, campanhas políticas, reuniões de associação
de bairro, memorandos governamentais, fichas médicas, investigações policiais,
pesquisas de mercado ou de opinião. E é possível que poucos deles consigam
chegar perto do retrato dos nossos dias feito pelo diretor Gustavo Taretto em
seu filme “Medianeras”.
No longa, Taretto correu todos os riscos de
tropeçar num debate que, em condições normais de pressão e temperatura, jamais
caberia (ou caberia ridiculamente) em 95 minutos de exibição. Não só coube como
ficou delicadamente desenhado em dois personagens-símbolos do que seria o anti-herói
da primeira década do século XXI. Uma geração com seus Iphones, vícios,
neuroses e contradições guardados na mochila.
Numa das mais emblemáticas cenas do filme,
Martin, o estranho personagem interpretado por Javier Drolas, conta para uma
amiga recém-conhecida numa sala de bate-papo eletrônico que desenvolveu uma
espécie de termostato emocional que o impede de vivenciar grandes tristezas ou
grandes alegrias na vida. Do outro lado da tela, a menina questiona: “E quando
a tristeza se torna inevitável?”. “Aí eu tomo Rivotril”.
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