Rui Martins, Direto da Redação
“Por amor a Deus, homens e mulheres
isolam-se nos mosteiros e conventos de "Meteora". Mesmo assim, o
filme Meteora, na competição em Berlim, mostra que o amor humano e a conjunção
carnal são tentações capazes de resistir à água benta, ao incenso e aos cânticos
gregorianos. Ícones, incenso, cânticos, velas e mulheres vestidas dos pés à
cabeça com longos vestidos cobertos de mantas ou véus, que lembram o chador,
pouco faltando para a burca muçulmana, assim é o filme Meteora, que mostra o
mosteiro masculino e o convento ortodoxo feminino em Tessaly, no alto de
montanhas quase inacessíveis a 550 metros de altura.
Os primeiros eremitas fixaram-se ali no
século XI e mais tarde, diante da ameaça dos turcos, os ortodoxos construíram,
no século XIV, um refúgio. O cineasta grego, Spiros Stathoulopoulos, filho de
mãe devota grega ortodoxa, escolheu "Meteora" como lugar do encontro
entre um monge grego e uma freira russa, num caso de amor proibido, mas
praticado entre atos de devoção, sem a frequência que poderiam querer os
pagãos.
A história de amores proibidos entre padres
e freiras que fazem votos antinaturais de castidade tem como mais conhecido o
casal Heloisa e Abelardo, de que se fala mesmo ter ficado grávida do seu amante
proibido.
Em "Meteora", ele chama-se Theodoros
e ela não tem nome, uma simples freira devota que se autoflagela queimando a
palma da mão com a chama da vela, provavelmente para se purificar, não se sabe
do quê, pois quase perto das nuvens e isolada do mundo pouco pecado poderia
ter. Mas a tentação é grande e tanto ela como Theodoros apaixonam-se, a ponto
de comunicarem nos dias de sol com os reflexos de espelhos lançados de suas
respetivas janelas.”
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