Eberth Vêncio, Revista Bula
“Já notaram que uma das coisas com que as
pessoas mais se excitam é dar notícia ruim? Contar desgraças é palpitante e,
numa roda de conversas fiadas, faz enorme sucesso. Os olhinhos brilham. Todos
esperam ouvi-lo.
As gestantes (coitadas!), por exemplo, passam
todo o pré-natal tomando vitaminas, levando dedadas na vagina e ouvindo das
comadres, parentes e estranhos causos de decessos obstétricos os mais dantescos
do planeta. Sempre aparece alguém com aquela estória do bebê que passou
da hora e nasceu roxinho.
Na seara dos dramalhões, eu me atrevo em
contar mais uma. Reuniu a família na sala e disse: “Gente, eu vou morrer
em breve”. A filha adolescente, que manuseava um ismarte-fone, entretida
em fofocas e intrigas virtuais, pausou os polegares, deixou cair o queixo, a parecer
ainda mais abestalhada que o costumeiro.
O irmão mais velho, a princípio injuriado
pela abrupta interrupção quando então dedicava uma punheta a Popozuda Mascarada
da Laje no banheiro (“Vem logo, menino”, ralhou a mãe), expressou uma face
estarrecida, a melhor de todas as faces estarrecidas da sua curta
existência. A mãe, que tomava chá verde emagrecedor, ficou pálida, bambeou
as mãos e derramou o líquido fumegante no colo obeso cultivado às custas de
muita comilança desenfreada, sedentarismo e duas barrigadas. Demandava perder
peso, melhorar o visual, já que o marido parecia deveras interessado nas
mulheres da vizinhança, muitas delas bem mais jovens, bonitas e jamais
enxertadas. Seu sexto sentido vivia a lhe trair, ao fantasiar aventuras do
marido com amantes. Então sofria de toda insegurança de que era capaz.
O marido, cujo corpanzil encontrava-se
igualmente detonado pelo efeito do tempo, do estresse, da falta de atividade
física e do excesso de trabalho, ultimamente andava mais preocupado em dormir
cedo do que dar trepadinhas domésticas quinzenais e fantasiar intimidade com as
outras mulheres. Até para atingir orgasmos o seu peculiar pragmatismo estorvava.”
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