“Algumas tentativas da percepção para
transcender o conflito entre a lucidez e a sombra nas obras de dois nomes
decisivos da literatura
Nei Duclós, Revista Bula
De perto somos todos normais: de esquerda,
de direita, de centro, alienados. De longe, quando a persona é vista em sua
inteireza, que só pode ser expressada pelo talento de cada um, o bicho pega. Jorge
Luis Borges e Pablo Neruda causam desconforto quando se fala neles. Um porque
apoiou a ditadura argentina, outro porque foi ministro do governo de Salvador
Allende. Essa maldição que persegue o gênio nos afasta da essência de suas
obras. Neste ensaio, alguns pontos focais do trabalho inumerável de dois mestres
da literatura universal. Um exercício de ver com os olhos livres e deixar de
lado o que é datado e perecível, mesmo que o talento se expresse às vezes sob a
ótica contaminada por convicções ideológicas. Fica no ar a pergunta: é possível
uma obra transcender suas fontes mesmo quando não havia intenção de
transcendência?
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demais da luz
Iluminado pelas leituras de toda uma vida,
Jorge Luis Borges descobre o essencial quando finalmente é empurrado para a
sombra. A cegueira, dura presença aos 70 anos de idade, o deixa só diante da
fonte que alimenta os clássicos — sua paixão explícita, uma rede tecida desde
Virgílio a Kipling.
Nesse ambiente onde as palavras são
desmascaradas — porque revelam-se desnecessárias — o escritor transforma-se no
oculto veio que pacientemente garimpou nas bibliotecas, e que faiscava nos
olhos de uma leitura privilegiada — árvore generosa de onde brotaram seus
livros.
Memória, então torna-se esquecimento, a
literatura transmuta-se em vida e a poesia é a alta gávea que anuncia a descoberta.
Em “Elogio da Sombra”, não é a treva que ofusca a obra, mas um outro sol,
imaginário antes, real agora, quando tudo vira linguagem. Inclusive o que não
pode ser alcançado pelo poema, apenas sugerido, como os volumes submersos para
sempre no alto das prateleiras.”
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