Antonio Tozzi, Direto da Redação
“Estrela de cinema. Musa de
Hollywood. Sex symbol. Estes rótulos parecem não repercutir em Angelina Jolie. A
mulher faz questão de marcar sua vida com atos e atitudes que vão muito além de
posar para paparazzi em carpetes vermelhos antes de cerimônias de entrega de
Oscars.
Casada com Brad Pitt,
considerado um dos homens mais charmosos de Hollywood, Angelina Jolie está na
contramão da badalação fútil do mundo do entretenimento. Em vez de ficar
comprando roupas na Sunset Drive, em Los Angeles, ou ir a Paris somente para assistir
a desfiles de moda, ela prefere ser filmada sem maquiagem enquanto percorre
vilarejos pobres da África subsaariana, seja para fazer um documentário
denunciando as críticas condições de vida daqueles seres humanos esquecidos
pelas sociedades opulentas, seja atuando como voluntária em defesa da prevenção
da Aids em países onde comer duas vezes por dia é um luxo.
Corajosa, passou do discurso
à ação. Adotou três crianças de países subdesenvolvidos: os meninos Maddox, do
Cambodja, e Pax Thien, do Vietnã, e a menina Zahara Marley, da Etiópia. Eles
convivem harmoniosamente com os filhos naturais do casal Brad Pitt e Angelina
Jolie – as meninas Shiloh Nouvel e Vivienne Marcheline e o menino Knox León –,
numa demonstração de total desprendimento e aceitação das diferenças étnicas e
raciais que predomina no lar de um dos casais mais badalados do mundo do cinema
atualmente.
Os direitos das primeiras
imagens de Knox León e Vivienne Marcheline foram vendidos por US$14 milhões
para as revistas People e Hello. O dinheiro arrecadado foi
destinado para a Jolie-Pitt Foundation, que se dedica a ajudar os menos
favorecidos e sobretudo à luta contra a Aids nos países subdesenvolvidos. Antes,
o casal já havia comercializado direitos de imagens de Shiloh Nouvel e até
mesmo de Maddox, com os fundos revertendo para instituições de caridade que
cuidam de crianças africanas.
Agora, ela soltou outra
bomba. No dia 16 de fevereiro deste ano, Angelina Jolie, com apenas 37 anos de
idade, submeteu-se a uma dupla mastectomia depois de ter descoberto que possuía
87% de possibilidades de desenvolver câncer de mama. Ela possui o gene
defeituoso BRCA1, que se traduz num risco aumentado de se desenvolver câncer de
mama e de ovário. O histórico familiar de Jolie de possuir o BRCA foi garantido
pelo teste genético de mutação. Sua mãe, a atriz Marcheline Bertrand, tinha
câncer de mama e morreu de câncer no ovário aos 56 anos, enquanto sua avó
materna teve a mesma doença e morreu aos 45 anos. A mastectomia de Angelina
Jolie reduziu suas possibilidades de desenvolver câncer de mama para menos de 5
por cento. O teste do tecido da mama removida não mostrou sinais de células
cancerosas. Ela divulgou ainda a intenção de fazer uma oophorectomia
preventiva, uma vez que tem 50% de probabilidade de desenvolver câncer
ovariano.
A intérprete da heroína Lara
Croft manteve a notícia sobre sua mastectomia sob sigilo até que tivesse
completado o processo, submetendo-se à cirurgia reconstrutiva, que envolveu
implantes e aloenxertos em 27 de abril.
Doloroso e frustrante como
deve ter sido este procedimento, a atriz poderia ter guardado para si e para os
parentes o que ocorreu, obrigando ainda a equipe médica a assinar um contrato
de confidencialidade para que nada disto fosse revelado. Afinal, isto poderia
afetar sua carreira, os contratos publicitários e sobretudo sua imagem como sex
symbol.
Angelina Jolie, no entanto,
gosta de desafiar o senso comum. Demonstrando muito destemor, ela própria
escreveu um artigo intitulado "My Medical Choice" (Minha escolha
médica), publicado na edição de 14 de maio do The New York Times, onde
detalhou sua jornada. Ela explicou sua decisão de tornar pública sua história,
ao declarar que espera ver outras mulheres beneficiando-se de sua experiência. “Câncer
ainda é uma palavra que desperta temores nos corações das pessoas, produzindo
um profundo senso de impotência. Mas hoje é possível descobrir através de exame
de sangue se você é ou não altamente suscetível a contrair câncer de mama e de
ovário, e tomar as medidas necessárias".
Logicamente, a revelação
chocou o mundo do entretenimento. Mas, passada a surpresa, começaram a ser
ouvidos elogios à sua bravura.Tanto por submeter-se a um tratamento tão radical
como pela divulgação de sua atitude no sentido de conscientizar outras mulheres
que podem estar sujeitas ao mesmo problema enfrentado por ela.
Autoridades médicas, do
mundo político e social parabenizaram a atriz por sua coragem e muitos disseram
que Angelina serve como inspiração para muitas mulheres de todo o mundo. Ou
seja, ela vem mostrando ser possível fazer a diferença numa sociedade com seus
atos. E este foi mais um deles.
O mais importante de tudo,
particularmente para ela, foi a aprovação de seu companheiro. Brad Pitt resumiu
tudo em uma só frase: “Angelina Jolie foi muito corajosa”. Alguém discorda?”
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