Rafael Teodoro, Revista
Bula
“O
fato de alguém ser adolescente não implica carimbar o passaporte para a
consumição impunível do lixo cultural — como se o cérebro do jovem permanecesse
atrofiado até a maioridade
Muito já se disse sobre a adolescência. Na
verdade, o entendimento desse período da formação humana tem sido um dos temas
abordados amiúde por psicólogos e psicanalistas. As opiniões são as mais
variadas: de “luto da infância” à correntia “fase de transformação biológica e
emocional”, é possível encontrar definições para todos os gostos e tamanhos. Até
um clichê já se cunhou para classificar o momento: “aborrecente” — termo usado
na confluência das noções de “aborrecido” e do sujeito que adolesce.
Imediatamente, identifico dois problemas
nessa situação. O primeiro, e mais óbvio deles, é que a assimilação conceitual
de uma “ideia de adolescência” dá-se, em geral, por pais sem nenhum preparo
científico para compreender o conceito com o qual estão a lidar. Isto mesmo: a
maioria dos pais educa seus ignorando a psicologia e a psicanálise.
Logo, para pais-educadores que desprezam
reflexões de ordem educativa, é natural “comprar” o ideário vendido nos livros
de autoajuda — que quase nunca analisam a juventude desde uma perspectiva
crítica, optando em tratá-la qual um “rito de passagem” inócuo ao mundo adulto.
Isso para não falar daqueles pais extremosos que se deixam enganar por
discursos oportunistas, visto que desprovidos de qualquer cientificidade, a
apresentar fórmulas para “domar” a juventude — indo dos “manuais sobre como
tornar seu bebê tão inteligente quanto Einstein fazendo-o ouvir música erudita
mozartiana no berço até lavar o cérebro do microinfante” aos adeptos das sempre
condenáveis práticas herdadas de uma tradição de violência ditatorial (a
“pedagogia da palmada”). “Adolescentes”, esses livros frequentemente ensinam,
são pessoas em “fase de transformação”. E é natural “ser” assim um tanto
atabalhoado, um tanto desnorteado, para não dizer displicente mesmo com a
própria formação intelectual. O conhecimento vulgar trata o adolescente como
uma folha de papel de impressão delével, que só se começa a colorir mui
tardiamente com as tintas permanentes da paleta da cultura e da
intelectualização.
Obviamente, estudiosos sérios de um assunto
sério, como é a adolescência, hão de repelir essas vulgaridades conceptuais. Recorrendo
à historiografia, alguns mitos são facilmente degringolados. O primeiro deles é
acreditar na ideia de uma adolescência anistórica e atemporal. Quem assim crê
ignora que a puberdade, entendida como maturação sexual, nem sempre esteve
acompanhada da “ideologia adolescente”. Adolescência é, na verdade, uma
“invenção” moderna.”
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