‘Os Bons Companheiros’ aos 25 anos: o melhor filme já feito sobre a Máfia?

Elenco original deve se reunir para marcar os 25 anos do filme em Nova York
"Não faltam superlativos quando se discute o filme Os Bons Companheiros, dirigido por Martin Scorcese e lançado em 1990. "Nenhum outro filme sobre o crime organizado chegou ao mesmo nível", escreveu o falecido crítico Rober Ebert. "De tirar o fôlego e brilhante", definiu Vincent Canby em uma resenha no The New York Times.



Mas há 25 anos, a reação inicial do público nas projeções de teste realizadas pelo estúdio era de amargar: conta-se que muitas pessoas deixavam o filme no meio e a plateia ficava agitada enquanto assistia à dolorosa história real de um mafioso de Nova York.

Apesar da ansiedade inicial, no entanto, Os Bons Companheiros se tornou um sucesso. Foi aclamado pela crítica, faturou alto nas bilheterias e foi indicado a seis Oscar. Agora, é reconhecido quase universalmente como um clássico.

No fim de semana passado, uma exibição especial do filme no Tribeca Film Festival, em Nova York, reuniu o elenco original no encerramento da maratona de 11 dias de cinema.

Sem romantismos

Vinte e oito atores de 'Os Bons Companheiros' atuaram em 'Família Soprano'

Os Bons Companheiros é baseado no best-seller Wiseguy, de 1986, do escritor e roteirista Nicholas Pileggi. O ator Ray Liotta dá um show no papel principal, do mafioso Henry Hill, mas todo o elenco tem atuações primorosas, com Robert De Niro, Joe Pesci e Paul Sorvino.

O filme conta a história de como Hill, falecido em 2012, entrou no mundo do crime organizado ainda garoto e aprofundou seu envolvimento em atividades como roubos, agiotagem, sequestros, incêndios intencionais e tráfico de drogas. Hill acabou se tornando um informante do FBI e entrou para o programa federal de proteção a testemunhas.

Os Bons Companheiros teve esse impacto em parte porque mostrou a crueldade da vida da máfia de uma maneira bem diferente de outros filmes anteriores.

Jerry Capeci, que escreve uma coluna semanal sobre a máfia, chamada Gang Land News, afirma: "O Poderoso Chefão romantizou os gângsteres e os tornou pessoas que matavam em nome da honra. Mas Os Bons Companheiros os mostrou como realmente são: caras violentos e sanguinários que matam sem pensar, que atiram na perna de alguém só para se divertirem".

A autenticidade dos personagens e do roteiro chama a atenção no filme. Ele tem um estilo quase de documentário, e seus produtores verificavam as informações veiculadas na história com rigor jornalístico.

Os Bons Companheiros agradou até o próprio Henry Hill, que elogiou o filme por transmitir uma sensação fiel do que é ser da máfia.

Legado no cinema e na TV

Para críticos, filme de Scorcese introduziu o 'gângster tagarela', como em 'Os Suspeitos'

Para muitos cinéfilos, Os Bons Companheiros representa o melhor de Scorcese como diretor – principalmente pela maneira que ele combinou as imagens com uma trilha sonora pop e rock para provocar uma reação visceral no público. Mas crédito tem que ser dado também à editora Thelma Schoonmaker, que fez a montagem do filme, assim como a maioria das obras do cineasta.

"O filme agarra você pelo pescoço logo no começo e não larga por duas horas e meia", diz o colunista Gary Susman, do site Moviefone, que já assistiu mais de 20 vezes à produção. Para ele, "é um prazer estar nas mãos de um cineasta que estava no auge de sua carreira. A história é divertida por si só, mas é incrível ser conduzido nela por essas pessoas malucas."

Os Bons Companheiros pode ser um retrato fiel do poder e dos privilégios da máfia, mas também é um filme que reflete as forças sociais e culturais que atingiam os Estados Unidos na época. Para alguns críticos, Hill é um homem refém do consumismo e do desejo.

Também não é surpresa que Os Bons Companheiros deixou um longo legado que é possível notar não só no cinema como na televisão.

"Acho que o filme introduziu a ideia do gângster tagarela", diz Susman. "Até então, pensávamos nos mafiosos como sujeitos silenciosos e discretos. Mas aqui o gângster não consegue parar de falar. E é daí que vêm esses gângsteres faladores e filósofos armados dos filmes de hoje."

O fenômeno é visto nos primeiros filmes de Quentin Tarantino, assim como na produção Os Suspeitos, com Kevin Spacey. E a premiada série de TV Família Soprano também deve muito a Os Bons Companheiros. Aliás, vários dos atores do filme de Scorcese acabaram trabalhando em Família Soprano.

Neste fim de semana, os fãs vão se reunir para assistir novamente ao filme de Scorcese, para muitos o mais perfeito filme sobre a máfia nova-iorquina.

"Nunca posso dizer: ‘este filme será um clássico’, por que você nunca sabe como ele será recebido.", diz Robert De Niro. "Mas eu sabia que este seria especial por ter Marty [como Martin Scorcese é chamado pelos amigos] no comando."

Vinte e cinco anos depois, Os Bons Companheirosé mais do que especial: é tido como uma obra-prima e um dos melhores filmes dos anos 90 e talvez o melhor da carreira de Scorcese."

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