Kátia Mello, Valor
“Passa um pouco do meio-dia e uma perua
escolar buzina para os alunos entrarem no veículo. A rotina dos meninos e
meninas no Colégio Angel, na rua Fagundes, no bairro Liberdade, em São Paulo, parece como a
de qualquer outra escola brasileira. Mas ali as crianças (entre um e seis anos
de idade) são todas chinesas ou descendentes de chineses. Em cada sala de aula
há duas professoras: uma ensinando português e outra, mandarim. Ideogramas e
gravuras chinesas decoram as paredes. Desde o maternal, os alunos aprendem as
tradições culturais de seus ancestrais. No andar de cima, um grupo almoça numa
mesa longa e as funcionárias correm apressadas para servirem os pratos. Algumas
mal falam português.
Em apenas cinco anos de existência, o
número de alunos da escola saltou de 25 para 185 e há uma fila de espera para
vagas no ano que vem. "O desafio é encontrar um local maior, porque a
procura é grande", diz a coordenadora pedagógica Daniela Botelho. Ela
conta que, ao aprenderem português, as crianças ajudam as famílias a se
comunicarem com os brasileiros. "Muitas vão para as lojas dos pais e
acabam servindo como tradutores para os clientes", diz Daniela.
Um século após a chegada dos primeiros
imigrantes japoneses ao bairro, a Liberdade é cada vez mais chinesa. À primeira
vista, não é tão fácil identificar a mudança. Da praça da Liberdade, onde fica
a saída do metrô, mercearias, lojas, padarias e lanchonetes exibem letreiros em japonês. A agência do
banco Bradesco, conhecida como Bradesco Nikkei, tem um serviço exclusivo de
gerentes que falam o idioma; o McDonald's da praça oferece um cardápio em japonês. Porém,
hoje a maior parte dos estabelecimentos comerciais é gerenciada por chineses e
alguns até contratam balconistas descendentes de japoneses. A tradicional rua
Galvão Bueno, que recebeu na década de 1960 o primeiro "torii"
vermelho (pórtico usado na entrada dos santuários xintoístas) é repleta de
galerias e lojas com produtos fabricados na China.
Atravessando a praça da Liberdade está o
próspero restaurante chinês Chi Fu. O suntuoso salão com certo ar kitsch,
garçonetes de roupas típicas falando mandarim e porções fartas (e em conta)
ajudam a explicar por que ele se tornou referência culinária na cidade. O
vizinho mais modesto da casa é o Ban Wa. O dono, Lian Chen, de 56 anos, chegou
ao Brasil há cinco anos diretamente de Xangai, metrópole da China continental.
Ele ainda não fala português e quem faz a intermediação com a reportagem é o
filho Lin Chen, de 18 anos.
Lian veio ao país motivado pelo sucesso dos
irmãos e primos que se estabeleceram no bairro há mais de 20 anos. No início, o
cozinheiro de Xangai trabalhou como chef em um restaurante chinês até montar o
seu próprio negócio. Lian conta que sua clientela é basicamente brasileira. Ele
e a mulher preparam os mesmos pratos de seu antigo restaurante em Xangai. Na Liberdade,
diz se sentir em casa. "A adaptação foi fácil, pois muitos aqui falam
mandarim", afirma. A família Chen trabalha das 11h às 21h, inclusive aos
sábados e domingos. Se tiverem sorte, podem ter o mesmo destino do Chi Fu.”
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