Rodolpho Motta Lima, Direto da Redação
“A afirmação
da crescente participação positiva das mulheres no mundo contemporâneo beira a
obviedade. Como personagens efetivas do cenário mundial, elas contribuem para a
criação de um painel do atual estágio da sociedade humana, com seus avanços e
seus percalços. Mas, evidentemente, não o fazem sozinhas e, para o mal e para o
bem, lá estão também os homens. E aí elas podem ser participantes em maior ou
menor escala dos episódios em que se envolvem. Escolho aqui quatro assuntos
envolvendo mulheres que, como protagonistas ou figurantes, alimentaram notícias
recentes.
Michelle Obama no Capitólio e outras americanas no
front da guerra.
A crônica da posse de Barak
Obama registrou um discurso mais efetivo do eleito, pautado em afirmações de
cunho libertário envolvendo os direitos dos gays, valores ecológicos e
promessas de paz. Um discurso bem próximo do que os democratas de carteirinha
querem ouvir naquele país. Mas também registrou, com indisfarçável “frisson”, a
nova franjinha da mulher do Presidente. É de se esperar que uma coisa nada
tenha a ver com a outra, e que as palavras de Obama saiam da aparência para a
essência. É de se esperar que os Estados Unidos cumpram com seu dever
planetário no combate ao aquecimento global, que renunciem à condição
autoatribuída de xerifes do planeta, que saibam construir internamente uma
sociedade menos adoentada pela violência das armas, que saibam respeitar
integralmente os direitos humanos em questões ligadas à tortura ou a situações
como a de Guantánamo. Isso acontecendo configurará uma autêntica mudança,
diferente do “mudar para ficar como está”, e Michelle Obama pode até pintar o
cabelo de roxo ou ficar careca que talvez a crônica nem perceba... Mas parece
difícil acreditar nas palavras do Presidente quando, poucos dias após, vem a
notícia de que, por deliberação do Pentágono, o exército americano vai ampliar
a participação das mulheres em postos que envolvem o confronto direto com o
inimigo. A “valorização” da mulher certamente dispensa essa inserção em ações
que deveriam envergonhar toda a humanidade. E a medida apenas fortalecerá a
violência, lá e no mundo. Se até as mulheres vão para a guerra, vai faltar
gente para chorar pelos mortos nas batalhas...
Mulheres estupradas na Índia
Mas nem todas as mulheres
chegaram, no planeta, ao estágio das lançadoras de moda ou das guerreiras de
plantão. O recente episódio de um estupro coletivo praticado contra uma jovem,
com requintes de crueldade, na Índia, deixa clara a realidade, não exclusiva
daquele país, de que a mulher ainda tem longos caminhos a percorrer em termos
de afirmação e liberdade. Além de estuprada, na Índia, como em muitos lugares
do mundo, a mulher passa a ser estigmatizada, tratada com desprezo, muitas
vezes responsabilizada pela ocorrência, constituindo, por força de uma
retrógrada e perversa visão do machismo impune, uma vergonha para a família. Felizmente,
há segmentos populares que, diante de barbaridades como essa, estão começando a
reagir, não aceitando a “teoria” de culpa da vítima e exigindo a punição dos criminosos.
Sangalo no Hospital
Bem distante dos problemas
da mulher indiana, a cantora baiana não foi hospitalizada nem passa por nenhum
problema de saúde – respirem aliviados seus fãs - mas envolveu-se em episódio
questionado pelo Ministério Público , que pretende averiguar o pagamento de
R$650 mil que teria sido feito a ela, pelo Governador Cid Gomes, do Ceará, por
um show de inauguração de um hospital público na cidade de Sobral. O caso aqui
não é entrar no mérito de quanto se paga aos artistas e jogadores de futebol
para entreter o povo em nosso país, mas de destacar que esse dinheiro, se saiu
dos cofres do governo, é do próprio povo, dos contribuintes que alimentam o
caixa governamental. E que, seguramente, poderia servir melhor ao próprio
hospital inaugurado...
Dilma na tevê
Falando em contribuintes, os brasileiros
vão desembolsar menos nas suas contas de luz, graças a ações promovidas nesse
sentido pela Presidenta Dilma – exemplo de mulher que se afirmou
planetariamente. Pretende-se também, com a redução de tarifas de energia
elétrica, propiciar às indústrias uma desoneração que lhes permita alavancar a
produção e gerar novos empregos. Dilma aproveitou o ensejo para, na tevê,
rebater o mau agouro dos abutres de sempre, cujo pessimismo orquestrado, negando
as conquistas do país, anseia por disseminar na população a ideia de crise e o
retorno ao “complexo de vira-lata” de que falava Nelson Rodrigues. Se as
palavras da Presidenta merecem aplausos – porque dão continuidade aos seus
propósitos de inclusão social - um homem, o presidente do PSDB, perdeu
monumental oportunidade de ficar calado, proferindo uma das frases mais
escandalosamente atentatórias aos princípios da democracia – uma frase digna do
golpismo vigente em certos setores - , ao questionar o direito de Dilma rebater
críticas (raivosas e inconsequentes, diga-se) que, diariamente, a mídia tucana
faz destilar, mesmo quando anuncia benefícios para o povo. A oposição logo
rotulou o pronunciamento de propaganda. Fico aqui pensando que a verdadeira
propaganda do governo na tevê – inserções publicitárias da Petrobras, BB,
Caixa, etc – essa jamais será censurada, pois, em situação que me parece
surreal, serve, com suas polpudas verbas, de combustível para o enriquecimento
e fortalecimento dos inimigos do governo e das conquistas populares. Até quando?”
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