Marcelo Carneiro da Cunha, Terra Magazine /
Zagueiro
“Eu estava em Porto Alegre nesse
final de semana, acordei no domingo com um amigo, em choque, dando a notícia do
que havia acontecido na madrugada. Mais de duzentas vítimas, ele falou, mas eu
acho que não registrei todos os zeros. Não podia ser, não pode ser. Esses não
são os números em tragédias no Rio Grande do Sul. O meu estado de origem prima
pela normalidade, e nossos desastres ocorrem em uma escala menor, mais
compreensível. Aquilo era simplesmente demais.
Passei a tarde assistindo ao que acontecia,
tentando compreender, como praticamente todo mundo, vocês, caros leitores,
certamente incluídos.
Pela janela da casa do meu anfitrião era
possível ver os helicópteros da Aeronáutica que traziam os feridos para o
centro especializado em queimaduras do Hospital de Pronto Socorro.
Tudo era real, por mais difícil que fosse
aceitar. Um lugar apinhado de gente, qualquer lugar apinhado de gente, pode
provocar uma hecatombe, bastando uma sequência de erros, omissões, crimes,
nessa ou outra ordem, com todos os elementos presentes ou apenas alguns, desde
que na proporção adequada, ou em acasos, um após o outro, e todos rumando para
o mesmo resultado.
Eu vi no olhar das pessoas o que elas
sentiam. Pesar, dor, empatia. Aqueles garotos e garotas, a maioria dos que
estavam naquele lugar, estavam lá para se divertir, como tanta gente faz, como
todos nós fazemos ou fizemos nessas vidas. Cada um de nós podia muito bem se
imaginar naquele local, a noite se deslocando desde os eventos normais de
qualquer balada até uma compreensão de que alguma coisa estava um pouco errada,
até ela se tornar completamente errada e ser tarde demais.”
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