Por que tanta gritaria? Se não tiver algo de bom a dizer, é melhor não dizer nada


Rebeca Bedone, Revista Bula

"Às vezes, você se sente como estivesse velejando para casa num bote salva-vidas. Teu coração está cansado de tanta mentira. Tem vontade de gritar para todo mundo ouvir: “Parem de mentir!” Sim, parem de espalhar notícias pelas redes sociais sem se certificarem se são verdadeiras. Chega de serem os ‘donos da verdade’ em discussões por bobagens. E, nos debates sérios, tenham respeito e tolerância. Seus olhos e ouvidos não aguentam mais tanto ódio e picuinha compartilhados à toa.

Mas você não grita, não quer participar dessa gritaria. O que está sendo discutido? Não parece que estamos pegando a onda virtual de criticar a vida alheia? Falar mal dos outros por trás de uma tela é fácil, ainda mais com perfis falsos. Nos habituamos a surfar por intrigas, fofocas e violência gratuitas. Mas essa gritaria toda cansa. Uma hora a gente se afoga.

Você prefere o silêncio. Do seu mar revolto, olha as estrelas que cintilam alguma esperança, enquanto o mistério continua guardado em ti. Para entender o barulho lá de fora, é preciso, primeiro, ouvir o silêncio aí de dentro. Nessa tempestade, pede à lua para te acordar onde estão as nuvens, onde toda mentira não passe de uma bola de sabão. É lá que nos tornamos livres. Sem amarras, encontramos a calmaria, pois podemos sonhar.

Afinal, já há tanto barulho lá fora. O choro dos sofridos, a buzina dos carros. Os escândalos políticos, as bombas das guerras e os terremotos da terra. Teu corpo treme com todo esse alvoroço, mas, logo, algo te inventa por dentro. Começa com esse silêncio daquilo que você ainda não sabe o que é. São palavras soltas que precisam se exteriorizar de ti. É como aquele aperto no peito que te faz sufocar, é a dor que dá dentro da gente e não devia.

Sinta. O silêncio é um local de descanso, um abrigo da tempestade. Feche os olhos e veja as suas cores. Leia a poesia escondida nas palavras. Quando estiver voltando do trabalho, redescubra o entardecer. O céu virá de uma paleta de pintura. Terá amarelo, alaranjado, carmim, lilás e azul. As cores se encontrarão com o seu fim de dia, mesclando alegria ao cansaço, renovando a sua força.

Quando você se perder e não souber o que fazer, o teu amor vai te ver por dentro. Passamos por abismos intransponíveis todos os dias quando desenhamos nossas próprias pontes. Quando pintamos mistérios até então não compreendidos. Porque não desistimos de nós mesmos, mesmo com todas as dificuldades.

Seja na política ou filosofia, na vida pessoal ou comunitária, não tenha medo de desaprender para aprender de novo. Não se importe em ser humilde ao reconhecer os seus erros. Ninguém é mais que do ninguém, e todos estamos aqui para crescermos juntos, mesmo com todas as nossas diferenças e desacordos.

Ouça. A quietude também tem sons. Com o silêncio também criamos nossa própria melodia; a música que fala da alma, que canta o amor e enaltece a vida. Vivemos em um oceano com seus dias de fúria, repleto de conflitos e dores e trovões impiedosos; e, nessa jornada, só os ventos daqui de dentro nos levarão ao cais do porto.

Veleje. O sentimento vai te guiar. É como escrever por entre espelhos pro sol beijar teu mar. Transborde tuas palavras no ritmo dessa canção… Você é embarcação!"

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