Newton, do alto da cátedra, sob a luz difusa a recortar seu perfil de ave de rapina, faz-se presente, tanto nos meus devaneios, como nos meus pesadelos. Nesses momentos, a representação dessa imagem possui grande força expressiva; sua contundência iguala-se à do fio de uma navalha que, usada como arma, consegue fazer a vítima da degola emitir um gemido pungente e inútil. A imagem de Newton, do alto da cátedra, é a negação das imagens sacras, já que não consola, não gera medo e menos ainda esperança. Demonstrar a existência de leis matemáticas que regem o universo para um auditório sem corpo é sinal de perseverança, obstinação e a existência de um caráter obsessivo que leva ao temor o possível opositor.
A réstia de luz demarcando o auditório, sua voz reverberando nas paredes criam um cenário de encantamento, atuando sobre Newton de maneira oposta à sua grande descoberta, a lei da gravidade. O estado de deleite mágico o conduz até as estrelas, possibilitando-o contemplar o universo; o fulgurante corpo do Criador viabilizado matematicamente. Do ponto de vista estritamente pessoal, esse Criador funciona como catalisador da ansiedade de Newton em busca da infinitude e, ao mesmo tempo, atribui sentido à sua solidão.”
Fernando Rego (In memoriam), Terra Magazine / Retrato: Isaac Newton de Godfrey Kneller (1689)
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