Espinosa e a divina carne

“Morreu aos 45 anos. Uma vida breve, conquanto íntima da criação humana mais complexa, o saber. Olhou o ser humano com tanta acuidade que escandalizou moralistas e religiosos e, por estes, foi considerado um insano perigoso, tendo sofrido a excomunhão. Ao morrer, não foi pranteado.

Baruch Espinosa nasceu em 1632 e faleceu em 1677. Amsterdã presenciou seu nascimento e Haia sua morte. Avesso ao poder, não ocupou cargos ou salões. Sua presença se faz notar em Kant, Hegel, Marx e Nietzsche: pensadores que abriram as portas à modernidade. Espinosa defendeu a liberdade de pensar e o direito de expressão, priorizando a crítica como fundamento à liberdade humana. A Ética, livro mais conhecido do filósofo, não se constitui em tratado a respeito da moral - como indica o título -, nem fala de deveres. A ontologia, a lógica e a antropologia constituem-se em fundamentos das três teses desse estranho livro: assegurar ao homem a liberdade, afastando-o da servidão às paixões; criticar moralistas que desconhecem a condição humana e, finalmente, evidenciar que as coisas singulares só podem ser apreendidas por intermédio da categoria da totalidade. A partir desses princípios, a Ética capta e estabelece o humano em um ­universo no qual inexiste o livre arbítrio, categoria cara aos que preferem enxergá-lo como fonte de erro e do pecado. Os moralistas, embriagados de falsos valores, exorcizam fantasmas; fantasiam a própria fantasia e, portanto, nunca chamam o Sol de Sol e a Lua de Lua e,assim, escamoteiam o verdadeiro problema ético com exercícios escolares de amor a Deus, à sociedade... Desse modo, encontram-se incapacitados para entender o homem e resolvem denegri-lo em nome de um céu de valores que desconhecem onde esteja e quem o criou.”
Fernando Rego, Terra Magazine
Artigo Completo, ::Aqui::

Comentários

Orlando Braga disse…
Sendo que Espinosa defendeu uma ideia panteísta do mundo, o que pressupõe um determinismo, como se pode afirmar que ele defendeu o livre-arbítrio? Ou existe liberdade ou existe determinismo; não podemos ter as duas coisas.

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