Noite branca no cinema

"O mundo está cheio de cinéfilos puristas. Em alguns lugares, eles se concentram mais do que em outros. Pedacinhos como aquele que vai entre o trecho da avenida Paulista, 900, em que o Reserva Cultural desfigura a fachada do prédio da Gazeta, com o agonizante Gemini logo ali, do lado, até a outra ponta da avenida, descendo pelos cinemas da Augusta, são perfeitos para achá-los (dizem os epidemiologistas que a espécie faz ninhos na região). Alguns têm um fenótipo claramente reconhecível: óculos de armação vermelha, tênis All Star em padrões exóticos, jeans sequinhos, quase colados ao corpo, eventualmente uma lomo à tiracolo. São curiosas as conversas que o vento sopra no ouvido de quem passeia no espigão da Paulista: o cardápio de diretores citados inclui clássicos de Fellini a Rohmer, exotismos orientais e muita, muita citação.

Nada tenho contra esses amores enciclopédicos, compulsivos e sistemáticos. Eu mesma, a meu modo, colecionei os meus queridos entre dezenas de títulos, todos devidamente catalogados por escola cinematográfica, diretor, fases de cada diretor. Mas nos últimos tempos, confesso que cansei um pouco. Resolvi cair de boca por um amor à antiga, pelo cinema, de simplesmente desejar a sala escura, quase que nem ver o que está em cartaz antes de comprar ingresso. Andei até dando um tempo para os diretores e suspirando pelos cantos pelo Louis Garrel. Que eu não seja confundida com a mocinha que vai ao cinema da cidade, louca para ver o galã e desanuviar do cotidiano triste, monótono e opressor, como a Cecília de A rosa púrpura do Cairo. Mas é que o Garrel, todo mundo há de convir, merece suspiros autônomos e independentes do diretor do filme, e é de lamentar profundamente que hoje seja tão mais difícil conseguir um cartaz bonito de publicidade do filme, com os atores, que valha a pena pendurar na parede do quarto. Mas divago; estava para falar do meu primeiro Noitão.”
Verônica Mambrini, Digestivo Cultural
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