Tempo de cuidar do que os meninos sentem

“Em um conto do Hemingway, A day's wait, um menino passa um dia inteiro sofrendo sem que o pai perceba ou compreenda. Eles acabam de chegar da França, onde moravam, para viver nos Estados Unidos. O menino está com gripe, coisa séria na época antes dos antibióticos, e o médico diz que ele tem uma febre de 101 graus. O garoto ouvia, na França, que quando a gente passava dos 42 graus era a morte logo ali. E ele passa um dia inteiro esperando o momento. O pai, sem compreender, passa o dia pescando, fazendo as suas coisas de pai, enquanto o menino aguarda o inevitável. É somente ao final do dia que se desfaz o engano.

Na França o termômetro é em graus Celsius, nos Estados Unidos o sistema é o maluco Farenheit. O menino descobre que sofreu um dia inteiro em vão, que não vai morrer e passa a chorar por qualquer coisa, enquanto o pai, estarrecido, percebe a enormidade do que deixou de sentir e entender.

Nesses dias de cristianismo overdosado, luzinhas nos prédios, perus, pêssegos em calda e mensagens de inspiração, eu gostaria de convocar a todos a exercitar a sua humanidade dando aos meninos e meninas a atenção que eles raramente recebem.

Eu convoco o mundo adulto a, mais do que ficar olhando as crianças brincando com os presentes que acabam de ganhar, a gastar nenhum dinheiro, mas algum tempo e energia descobrindo o que eles verdadeiramente sentem. E tratar de cuidar desses sentimentos meninos, que um dia vão definir os adultos que dali vão surgir.”
Marcelo Carneiro da Cunha, Terra Magazine
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