“As narrativas de José Cardoso Pires e Jean-Dominique Bauby funcionam de modo a resgatar a dignidade do homem diante de situações que teriam tudo para reduzi-lo à condição de simples joguete do destino, de “ser” impotente diante de uma condição que lhe escapa à compreensão
É com desconforto e uma certa dose de temor que acompanhamos os relatos dos pouco volumosos, e nem por isso leves, De profundis, valsa lenta, do escritor português José Cardoso Pires (1925-1998), e O escafandro e a borboleta, do jornalista francês Jean-Dominique Bauby (1952-1997).
José Cardoso Pires, autor de vasta obra, em que se incluem os indispensáveis O hóspede de Job (1963) e O delfim (1968), e Jean-Dominique Bauby, ex-redator chefe da revista Elle, foram vítimas do que a medicina denomina de acidente vascular cerebral e os seus relatos constituem-se como testemunhos dessa dolorosa experiência. O ano fatídico para ambos foi o de 1995. Para Cardoso Pires a reviravolta se deu numa manhã de quinta feira, em janeiro daquele ano; para Bauby, o golpe ocorreu em dezembro, mais precisamente no dia 8, uma sexta-feira. O Escafandro e a borboleta foi concluído em 1996, já o De profundis, valsa lenta, só foi escrito em 1997. Os dois relatos foram publicados no mesmo ano de 1997, respectivamente na França e
Luís Fernando Prado Telles, LMD Brasil
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