O amor. O prazer. A morte - por Silesius e Epicuro

I "Das muitas visões que perseguiram a J. Scheffler (1624-1677) - mais conhecido como Angelus Silesius -, uma exige particular atenção por estabelecer singular relação de reciprocidade: "Os olhos com que vejo a Deus são os mesmos com que Deus me vê". Anda-se pelo mundo de diversas maneiras. Nesse deambular, cada um percebe e ressalta o detalhe do viver que mais satisfaça seu orgulho, inteligência e vaidade. Assim, há os que necessitam do risco para sentir prazer pela vida e, por esta razão, a transformam em desafio. Convivem com o risco e estão conscientes de que em cada possibilidade do perigo está gravada a morte, o momento final. Portanto, cada gesto busca similitude na perfeição; ideal ansiosamente procurado por quantos o vive intimamente o risco.

O ir pelo mundo é uma arte que subentende a ética. Se o olhar a morte é um gesto ético, consequentemente, há correspondência por parte dela. O conceito de imortalidade surge para ocupar o vazio teórico entre Deus e a morte. Mas inexiste esse vazio, posto que ambos os conceitos designam a mesma coisa - o abismo sem memória. Deste, é impossível conseguir um eco ou ter recordações. O morto não possui futuro. E assim, o tempo, para ele, deixa de existir. Transforma-se em um ser meramente espacial e, como tal, incólume à culpa e ao castigo. Desse modo, adquire invulnerabilidade e toma a si propriedade assombrosa.

Deve-se observar que o homem metafísico, submetido ao terror cósmico, transforma a morte em uma espécie de evolução ao contrário. A busca de uma excelência ética irá permiti-lo distinguir-se dos seres naturais, já que estes são destituídos de valor. Essa busca é metodológica; por meio dela o homem humaniza-se e, ao mesmo tempo, afirma sua dignidade. A força dessa descoberta não só produz o espanto do existir como consegue explicitar sua fragilidade. Assim sendo, deixará clara e destituída de qualquer impureza lógica, a asserção: a doença é o problema, não a morte. Cabe ao doente adequar seu existir ao mal que o aflige - o que faz nascerem muitas das singularidades de alguns homens. Apesar de ninguém escolher deliberadamente a paixão ou o mal que o aniquilará, estes parasitam o corpo e podem levá-lo à morte, depois de percorrer o caminho da angústia e da dor. Daí a necessidade de se pensar que sábio é todo aquele que consegue proteger o espírito dos males e, ao mesmo tempo, recusa-se ser passional e patológico. Essa recusa o tornará virtuoso. Desse modo, poderá adquirir conhecimento da infinitude do desejo e da dificuldade em poder saciá-lo. Portanto, é a capacidade de aprender que transforma o homem em homem sábio. Talvez essa condição seja apenas uma hipótese extravagante, mas requer reflexão.”
Fernando Rego (In memoriam), Terra Magazine
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