O romance da década

Luiz Rebinski Junior, Digestivo Cultural

“Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir levaram para o relacionamento amoroso a liberdade existencial que pautou o pensamento de ambos durante toda vida. Amantes, sim, mas, sobretudo, livres. Mantra que possibilitou que o relacionamento aberto dos filósofos sobrevivesse aos percalços que uma relação de mais de cinco décadas necessariamente impõe. O caolho Sartre, com sua feiúra proporcional à inteligência, sempre teve seus casos; Beauvoir, mesmo mantendo uma adoração quase que religiosa por Sartre, deixou se envolver em um longo e tortuoso relacionamento com o escritor americano Nelson Algren. Sartre e Beauvoir nunca se casaram, desprezavam os dogmas da igreja, mas fizeram valer como ninguém a máxima católica do "amar até que a morte os separe".

Os existencialistas Sartre e Beauvoir viveram o que para muitos é o relacionamento ideal. Valendo-se da liberdade que só a ficção proporciona, o argentino Alan Pauls foi além. Criou um relacionamento ainda mais perfeito (ou utópico, entenda como quiser) do que o vivido por Sartre e Beauvoir, em que a única saída, paradoxalmente, estava na separação. Um relacionamento que, diferentemente do amor anarquista dos intelectuais franceses, nada tinha de ideológico. Simplesmente o amor em seu estado mais bruto e natural; um amor adolescente e sincero, capaz de não tomar conhecimento das pequenezas do relacionamento a dois; um amor em que a lealdade, a verdadeira lealdade, mais comum em grandes amizades do que em relacionamentos amorosos, se sobrepõe a qualquer tipo de sentimento comezinho; um amor indestrutível, que não se abala com flertes ou paqueras, em que a paixão se coloca como algo superior, fora do plano terreno da possessão e do egoísmo.

Esta é a visão do amor apresentada por Alan Pauls em O Passado (Cosac Naify, 2007, 480 págs.), livro em que o tradutor Rímini e a jovem Sofía vivem uma espécie de catarse amorosa durante 12 anos até que simplesmente resolvem encerrar o relacionamento. Decisão que resultará em algo bem mais complicado do que os anos de monogamia. A ruptura deixará como espólio aos amantes um turbilhão de lembranças que os impedirá de viver. Ou melhor, viverão atormentados pelo espectro de um passado intenso que insiste em não desgrudar da memória. O que resulta em futuro incerto, sempre à sombra da intensidade do que viveram, como se nada pudesse, a partir dali, ser mais forte, interessante e bonito do que o passado.”
Artigo Completo, ::Aqui::

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