Quem é você? - Carnaval e Psicanálise

Paulo Costa Lima, Terra Magazine

Ser uma coisa é não ser susceptível de interpretação." Fernando Pessoa

1.
Colocando Descartes no meio da Timbalada ou melhor, da Mudança do Garcia, no dia certo, ouviríamos uma variante nada ortodoxa da célebre máxima. Ele nos diria: rebolo, logo existo. O rebolado é condição do sujeito, significa literalmente girar sobre si próprio. Re-bola, bola duas vezes: jogo de cintura, se quiserem.

A Mudança do Garcia é uma das manifestações mais díspares e legítimas do Carnaval da Bahia. Sempre na 2ª feira de carnaval, alguns milhares de pessoas saem pelas ruas acompanhando carroças com muita folhagem, gente fantasiada, batucadas refinadas, e um tom geral de anarquia e protesto. Vale tudo!

2.
O sujeito é um movimento e o desejo do carnaval é o desejo de aceleração desse movimento, uma aceleração que caminha contra a ordem das coisas, que invoca uma espécie de mergulho na dissolução. Há, portanto, uma espécie de revolta no carnaval, uma recusa a ficar quieto, instalado e satisfeito, mas é uma revolta pela alegria. O carnaval é uma sede, o que dá todo o sentido ao sucesso da canção de Brown, Água Mineral. O que a música pergunta é justamente isso: Tá com sede? Mas essa sede é outra, é uma outra sede.

3.
O saudoso arquiteto e fotógrafo Silvio Robatto contava que um belo dia, tendo saído para fotografar coisas do Carnaval, no Centro Histórico de Salvador, foi surpreendido por uma chuva repentina e forte, dessas que acontecem por aqui. Chateado com a interrupção do serviço, entrou numa igreja para esperar a chuva passar. Qual não foi sua surpresa: o rebolado estava todo lá dentro da igreja, nas alegorias de anjos e santos feitos pelos escravos. A espiral do barroco e o êxtase do batuque podem caminhar juntos na Bahia. O barroco rebola, concluiu ele - e organizou uma contundente exposição fotográfica sobre o tema (Cf. O barroco no rebolado).”
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