Candidatos a gramáticos? Políticos e jornalistas

Sírio Possenti, Terra Magazine

"Por causa do carnaval, de um congresso, de um pouco de preguiça, mas também porque certas coisas não devem ser esquecidas, republico um texto antigo, de meados da década de 90 do século passado. É que, de vez em quando, esse papo de que Lula fala errado volta à cena, ora nos blogs de comentaristas políticos, ora em insinuações de FHC, como ocorreu recentemente. Segue o texto:

Vêm aí as eleições presidenciais. Pessoalmente, não vejo problema em suportar o horário político na TV. Pior será aguentar de novo alguns sabidões dizendo - com pose de quem sabe do que está falando - que não se pode votar em determinado candidato porque tem pouca escolaridade ou, pior, pelo fato de que não sabe nem falar. Há alguns dias, até o Enéas, aquele da fala rápida e ideias fascistas, disse que acha que há um candidato, que a imprensa elogia muito, que não sabe expressar-se adequadamente, falando ou por escrito. Aliás, ele pensa que é um modelo de sabedoria linguística, quando qualquer estudioso de linguagem identificaria nele um indivíduo que tenta, através de um estilo antiquado (o último exemplar desse comportamento foi Jânio, mas certamente com outros propósitos e com competência infinitamente maior), esconder uma origem da qual se envergonha. É um exemplo ambulante de hipercorreção, ou seja, de inadequação linguística. No debate promovido pela TV Manchete, apenas para dar um exemplo, em três falas disse três vezes a palavra "primacial". Deve ter consultado um dicionário de sinônimos antes do debate.

Certamente, o discurso dos candidatos é um dos sintomas pelos quais podemos julgá-los. Mas também para isso também se exigem critérios. No mínimo, critérios tão claros quanto os utilizados para julgá-los em qualquer outro campo. E Enéas não é o único a emitir juízos superficiais ou equivocados sobre linguagem. É raro, mesmo entre os intelectuais, que haja domínio dos instrumentos necessários para avaliar certos aspectos da linguagem dos candidatos, sem preconceitos (pró ou contra).

Mesmo jornalistas, que vivem da linguagem e se revelam curiosos em relação a numerosos outros campos, utilizam-se às vezes de critérios de avaliação linguística muito primários. Vou dar um exemplo, com dados antigos, mas que, certamente, continua válido (inclusive porque dados do mesmo tipo continuam ocorrendo; aliás, com mais de um candidato, embora só se anotem os fatos quando ocorrem com um deles).”
Foto: Marcello Casal Jr., ABr
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