Os fios do labirinto

Paulo Nassar, Terra Magazine

“Entre os séculos XVI e XVIII, era comum nas cidades europeias contratar um magistrado para promover o reordenamento político e jurídico, colocando-o acima das disputas e interesses de facções. Calvino (1509-1564), por exemplo, reorganizou a Igreja e o Estado de Genebra, abrindo caminho para a cidade se transformasse num vigoroso núcleo protestante. Rousseau(1712-1778), o autor de Do Contrato Social, por pouco, não exerceu idêntica função na Córsega.
Hoje, essa figura já não existe mais e as sociedades em crise são obrigadas a encarar seus próprios problemas. É exatamente esse o fio do labirinto para sair da atual turbulência econômica: a ativa participação do corpo social.

O traço em comum com o passado é que, na origem da crise, encontra-se o conflito recorrente entre o interesse público e o interesse privado. Na Europa dos fins da Idade Média e da ascensão da burguesia, no século XVIII, a efervescência política estava polarizada entre o velho regime monárquico, autocrático e autoritário, e a moderna república, com seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Uma, a monarquia, de limites nacionais; a outra, a república, de horizontes universais.

Agora, o choque se dá entre a ambição de uma sociedade global que corrija desigualdades e promova a integração da humanidade, de um lado, e , de outro, uma globalização egoísta, que serve apenas a interesses individuais ou de grupos.

É essa a natureza profunda da crise do presente. Criou-se uma imagem de que o Estado é a essência da ineficiência, a iniciativa privada justamente o oposto. Os fatos não corresponderam à realidade. E a imagem construída com pés de barro ruiu. Esqueceu-se a origem do Estado, nascido para permitir que o capitalismo mercantil pudesse realizar suas plenas potencialidades. Esqueceu-se a origem da palavra privado, que, no princípio, na Grécia Antiga, significava privação. Privação de liberdade para mulheres, estrangeiros e escravos que não podiam participar da ágora, isto é, da liberdade de discutir em praça pública os temas maiores, como a justiça, as leis, a república e a própria liberdade.”
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