“Os jovens não são tão babacas quanto se pode imaginar”

"Laurent Cantet, diretor de Entre os muros da escola, revela como foi a criação do filme que se passa em uma sala de aula, mas revela muito da sociedade contemporânea. O filme francês foi o grande vencedor do festival de Cannes de 2008.

Gisela Anauate, Época

O filme francês Entre os muros da escola, uma ficção que se passa numa sala de aula e usa técnicas de documentário, estreia no Brasil neste final de semana. O grande vencedor do festival de Cannes de 2008 foi baseado no livro de mesmo nome, escrito pelo ex-professor e jornalista François Bégaudeau, que faz seu próprio papel no longa-metragem. O diretor Laurent Cantet veio a São Paulo para divulgar o trabalho. Em entrevista a ÉPOCA falou sobre seu complicado processo de elaboração.

ÉPOCA – O senhor já disse que o filme Entre os muros da escola pode ser visto como um microcosmo da sociedade francesa. Por quê?
Laurent Cantet – A composição multiétnica da sala de aula mostrada no filme é representativa da população de certos bairros de Paris, ou mesmo em outras cidades da França. Por isso, não é uma visão global. Tenho a impressão de que as questões que são levantadas pelo filme, sobre as quais temos um pouco de medo de pensar, são essenciais para a sociedade. Precisamos discutir a imigração, o que é fazer parte de uma comunidade e como os países podem ajudar a acolher os que chegam. Podemos pensar como esse intercâmbio que acontece na escola, e, mais amplamente, na sociedade, pode contribuir para a cultura. Olhar para o pequeno mundo da sala de aula é também olhar as coisas praticamente em sua origem, pois é o momento em que esses jovens começam a pensar em si mesmos dentro da sociedade. Precisamos levar em conta as questões que eles se colocam, às vezes de forma torta, ou agressiva. Quando a aluna Esmeralda diz "não tenho orgulho de ser francesa", é importante que escutemos. É importante entender o que leva os jovens a sair quebrando janelas e queimando carros. O que Esmeralda diz é que a França não lhe dá a sensação de que a aceita; ela não se sente querida pela comunidade. A maior parte desses garotos não é de imigrantes, mas de filhos e netos de imigrantes. Mesmo duas gerações adiante, eles ainda têm a sensação de estar à margem da sociedade. E a escola é um lugar interessante a se observar porque é um dos últimos em que essa mistura realmente acontece. Num futuro bem próximo, vai haver uma seleção; uns vão partir para um lado, outros para outro. Na vida cotidiana, geralmente ficamos num círculo de pessoas que se parecem um pouco conosco, não há tanto essa miscelânea como há talvez numa sala de aula.

ÉPOCA – Essa fala de Esmeralda surgiu durante as oficinas que precederam as filmagens?
Cantet – Não tenho certeza se ela disse isso durante uma oficina ou durante a própria filmagem. É por isso também que tive vontade de trabalhar com a oficina. Mesmo se tivéssemos diálogos e frases definidos no roteiro, também deixei espaço para que essas improvisações pudessem acontecer. Depois, cabe a nós explorá-las, a seguir com elas.

ÉPOCA – Como foi exatamente todo o processo?
Cantet – No começo do ano escolar, visitamos várias salas de aula convidando os alunos para participar das oficinas. 50 alunos apareceram no primeiro encontro para ver do que se tratava. Os que estavam menos interessados saíram nos ateliês seguintes, e ficamos com 24 alunos que são os que aparecem no filme. Não fui eu quem escolheu, foram eles que decidiram ir até o fim.
Entrevista Completa, ::Aqui::

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