Trinta e três

Tony Monti, Terra Magazine

"Corriam. No canto inferior da tela, o cronômetro marcava segundos, décimos e centésimos. Quando o primeiro passou a linha, a frase "world record" apareceu como legenda. Alguns minutos depois, a cronometragem oficial anunciou o tempo corrigido, três centésimos mais lento, quinta melhor marca da história. Imaginei que, escolhessem qualquer um dos atletas e filmassem com dois por cento de aceleração, teríamos um filme do recorde mundial. Os jornais do dia seguinte informariam sobre o feito ao atento leitor do caderno de esportes, ainda que alguns décimos a mais ou a menos não possam ser percebidos por quem vê a prova.

Na semana passada, enquanto a Globo transmitia o jogo do Palmeiras, o narrador, desatento às imagens exibidas, dizia que no outro estádio, no jogo do Corinthians, o relógio marcava vinte e um do primeiro tempo. Futebol não é apenas o que acontece em campo. Ronaldo poderia fazer mais um gol e isto seria comentado mesmo que, em uma hipótese absurda neste mundo paparazzo, ninguém o tivesse filmado. Sim, há a bola, onze contra onze, as traves, o verde do gramado - o mundo concreto -, mas minha atenção agora é para a materialidade do que se diz, em palavras e em imagens, o tecido das frases que moldam o que acontece.

Utilizemos, para fins analíticos, o seguinte critério para medir a relevância de um acontecimento: se o que acontece gera muitos comentários, ele é significativo, segundo este critério, para as pessoas que o comentam (não proponho fazer a avaliação para o que se diz nos jornais, quero apenas brincar com uma idéia). Ronaldo, neste critério, é significativo. O que ele faz é notícia mesmo que, por imposição de um contrato, as imagens da partida em que ele está envolvido não sejam transmitidas.”
Foto: Lance!Net
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