Árvores Abatidas, Thomas Bernhard

Vinicius Jatobá, Terra Magazine

“Raros autores são capazes de abarcar e relacionar tantos assuntos, até mesmo díspares e contraditórios, com tanta lógica e engenho quanto Thomas Bernhard - seus romances de maturidade, sem exceção, demonstram os graves acidentes de percurso que um pensamento apaixonado e expansivo pode sofrer. As personagens do austríaco vociferam, caluniam, analisam e diminuem seus objetos de contemplação em todos os sentidos e direções, acusando fracassos, denunciando preconceitos e, de modo intenso e arrebatado, reclamando uma Áustria perdida (e que talvez nunca tenha existido).

Desse modo, pela acidez de sua visão, pela ira de sua voz, seus textos tortuosos e densos poderiam ser facilmente contra-indicados a todos os espíritos frágeis desejosos de leituras leves e fantasiosas - o mundo de Bernhard, amargo e asfixiante, parece não possuir espaço para a inocência: as frases de sintaxe complexa, as constantes repetições, a detalhada exposição das fraquezas de tudo e de todos: um universo em plena decomposição, que o narrador recupera e lamenta enquanto busca culpados que possam responder por tudo aquilo que se perdeu.

Porém, com uma mecânica difícil de precisar, Thomas Bernhard opera o excepcional milagre de gerar, apesar de tudo, um prazer genuíno no leitor que se aventura pelos tortuosos caminhos de suas narrativas nada convidativas: vencidas as dificuldades do primeiro contato, e uma vez acostumado ao estilo inconfundível do autor, resta apenas a fascinação de estar diante de um escritor completo, com uma forte visão do mundo, e uma profunda compreensão de suas criaturas. Em Bernhard há um pouco de tudo: pensamento, narração (reduzida ao essencial), humor, erotismo, música, pintura, filosofia, complexidade psicológica, imaginação verbal e uma pitada, curiosa, de grotesco.

Árvores Abatidas tem uma trama irrisória: o narrador é convidado a uma reunião artística por um casal que o encontra, por acaso, numa rua e que ocorrerá no mesmo dia do enterro de sua amiga Joana, também uma velha conhecida do casal. Três décadas de ausência antecede o retorno do narrador, agora um escritor de razoável sucesso, à sua Viena natal.”
Artigo Completo, ::Aqui::

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