Honrar a vida

Maria Clara Bingemer (Teóloga e Professora da PUC), JB Online

“Dizem que as crianças hoje já nascem sabendo. Que não são mais como antes, imobilizadas em cueiros, proibidas de tomar banho até o cordão umbilical cair, de olhinhos fechados até o final do primeiro mês de vida etc. Dizem que os bebês hoje já nascem ligados em tudo e não são mais aqueles serezinhos meio à parte do mundo, que se moviam apenas entre o seio túrgido de leite e o escurinho do berço.

Foi essa a sensação que tive ao lançar meu primeiro olhar sobre Maria Antonia. Nasceu de olhos muito abertos, com expressão tão inteligente e concentrada, que parecia impossível serem verdadeiras as palavras da enfermeira, que insistia em dizer: "Ela não vê nada por agora. Só escuta". Em todo caso, na dúvida, olhei bem para ela também. E acho que naquele primeiro momento já estabelecemos uma relação viva e verdadeira entre avó e neta.

Os olhos de Maria Antonia já nasceram perscrutadores, curiosos, observadores, ternos, pensativos. E pensei no Evangelho, quando Jesus diz que os olhos são a lâmpada do corpo. No caso dela, são sem dúvida a luz que revela seu rostinho adorável, encimado por uma quantidade de cabelos escuros como nunca vi em bebê algum. Olhando no fundo daqueles olhos, sentia a vida outra vez brotando nova e fresca em nossa família. Foi uma longa contemplação a que fiz na manhã da sexta-feira, 15 de maio, através do vidro do berçário, quando seu pai, meu filho, a trouxe nos braços e a apresentou, emocionado e cheio de orgulho, aos avós ansiosos. E eu fui então admitida à visão de seus olhos grandes, sérios e profundos.

O nascimento de Maria Antonia traz de novo o convite constante e insistente a honrar a vida. Ao lado dela, choravam, olhavam, mexiam braços e pernas dezenas de outros bebês, que eram diligentemente lavados, tratados, vestidos e cobertos pelas enfermeiras que depois os levavam para as mães que os esperavam com os seios repletos de leite e de amor. Era impossível não se sentir comovido vendo aquele movimento da vida que recebia os primeiros cuidados e iniciava seu longo e belo caminho em direção ao crescimento e à plenitude. Era impossível não crer no amor que ama primeiro e sai de si para criar, sempre único, sempre original, sempre irrepetível.”
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