O silêncio e a paz de Jonas

Janio Ferreira Soares, Terra Magazine

“Nas minhas primeiras idas a Salvador várias coisas me encantaram. Dentre elas, a escada rolante da Fundação Politécnica; o elevador Lacerda; a banana split da Lobrás; o cheiro das maçãs de uma banca perto do Cine Guarani; o vai e vem das meninas com suas calças azuis e desbotadas, e, principalmente, a imagem "de cinema" da televisão. Diante dela eu varava as noites e ficava até depois de encerrada a programação, apenas vendo o indiozinho da Itapoan piscando no escuro da sala. Mas tinha um programa em especial que me fascinava e me deixava vidrado diante da tela azulada da velha ABC. Chamava-se Som Exportação.

Foi nele que eu vi pela primeira vez uma turma que eu apenas conhecia de ouvir falar, ou então de algumas canções que conseguiam transpor a Serra do Padre e ecoavam pelas ruas de terra da velha cidade de Glória (BA) através do rádio e da difusora da praça. Desde Ivan Lins dizendo que o seu peito percebeu que o mar é uma gota comparado ao pranto seu, passando por Milton Nascimento - soltando a voz nas estradas -, até Elis Regina, implorando uma casa no campo pra poder compor muitos rocks rurais, tudo cheirava a novidade para olhos acostumados a ver parentes conversando sob umbuzeiros em flor, e ouvidos habituados a zumbidos de asas de colibris cortando as intermináveis manhãs.

Talvez por isso eu tenha me identificado de imediato com três cabeludos que apareceram por lá tocando uma levada diferente, que misturava o rock do Alabama com o blues de Minas Gerais, cujo resultado - dava para antever - fatalmente transitaria pelo Rio São Francisco, passaria por Pilão Arcado e Sento Sé, e desaguaria entre a montanha e o mar. Sá, Rodrix e Guarabira, eram seus nomes. O prazer foi todo meu.”
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