Sua mãe é o seu Big Bang

Marcelo Carneiro da Cunha, Terra Magazine

O Ministério da Literatura de Qualidade Questionável adverte: esse texto vai oscilar entre o piegas e o definitivo, como tudo que falamos quando falamos de nossas mães. Leia, se, quiser, por sua conta e risco.

Existe um livro que eu gostaria de recomendar a todos, "Uma breve história de quase tudo", do americano Bill Brysson, que durante um vôo sobre um oceano começou a olhar pela janelinha e refletir sobre o que ele via lá fora. Nuvens, ar, mar, salgado, avião voando, como, quando, por que? Ele resolve então fazer algo muito intenso. Ele resolve romper com a nossa atitude mais comum, de simplesmente aceitar que o mundo exista, e passa a se dar conta das coisas ao redor e perguntar a si mesmo, afinal, como tudo isso se tornou o que se tornou?

Dessa mudança de atitude sai esse livro, que começa com o Big Bang, passa pela formação do universo, do sistema solar, dos átomos e moléculas, da Terra, das células pequeninas que eu, você e o senhor aqui ao lado possuímos aos bilhões, e que nos fazem ser.

Aceitar o que existe sem pensar a respeito, respirar, comer, dormir e, eventualmente morrer, não nos torna em nada especiais ou diferentes de uma abóbora, que faz tudo isso e ainda vira doce com uma facilidade incrível. O que nos faz humanos é a nossa capacidade de saber que o mundo existe, e nos espantarmos com ele. É sobre isso que essa coluna vai falar, propondo que comecemos pelo espanto que foi e é a nossa relação com a nossa mãe.

Afinal, um dia, uma vez no tempo, a relação entre você e a sua mãe foi exatamente a mesma de um Big Bang, tão cósmico quanto ele, apenas em menor escala. E o simples fato de que todo dia milhares de pessoas nasçam não torna cada um desses eventos menos espantoso, da mesma forma que é espantoso que estrelas sigam nascendo em nossa galáxia, poeira cósmica se comprimindo e explodindo em vida estelar, a cada instante. Cada um de nós é resultado de um processo incrivelmente complexo, mitoses e meioses ocorrendo enlouquecidamente com o DNA comandando o espetáculo e a sua mãe enjoando ao mesmo tempo em que você se multiplica e vira um ser dotado de órgãos, cabelos, unhas e alguma inteligência, no que a gente chama, sem refletir muito, de o milagre da vida.

O fato de isso não ser exatamente um milagre, não o torna menos espantoso, e lembrem que a coluna de hoje é um convite ao espanto.”
Artigo Completo, ::Aqui::

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