Com Chico Buarque na FLIP

Milton Hatoum, Terra Magazine

"Não foi fácil participar de uma mesa com Chico Buarque na Festa Literária Internacional de Paraty. O assédio a um dos artistas mais talentosos e queridos do Brasil inibe qualquer um. Leitores e fãs viajaram das cidades mais distantes para ver e ouvir Chico Buarque. Encontrei gente de Manaus, do interior da Bahia, do Piauí, de Goiás e do Rio Grande do Sul. Alguns leitores subiram em árvores para fotografar seu ídolo, e por pouco não se jogaram lá de cima. Essa idolatria - que revela um grau exacerbado de admiração - é compreensível. Mas o foco do debate, com a ótima mediação de Samuel Titan Jr., foi mesmo a literatura, como o leitor pode constatar na internet.

Entre vários recursos técnicos bem realizados, duas coisas me impressionaram no romance Leite derramado: a concisão da obra e a linguagem que forjou esse mandamento da brevidade. Em duzentas páginas, a vida de Eulálio e de várias gerações da família Assumpção são evocadas por pinceladas rápidas, mas fortes.

No excelente texto da orelha, Leyla Perrone-Moisés assinalou justamente essa originalidade em relação ao gênero literário. Sagas romanescas pedem centenas de páginas, quando não vários volumes em que se expandem os conflitos e as mudanças de sucessivas gerações de uma família. Chico fez de uma saga balofa um romance fino, e o que poderia ter sido um mural ou painel, reduziu-se a uma bela iluminura.

Na fala delirante de um personagem senil - que às vezes lembra um velho patriarca de García Márquez -, o leitor se depara com personagens de vários estratos sociais do Rio de Janeiro. No tempo em ziguezague da narrativa, o Rio é a sede da corte portuguesa, a capital da República e também a metrópole ferida pela violência da ditadura. Ou seja, é uma cidade em diferentes momentos de sua história, antes e depois da fundação de Brasília.”
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