Meu eu escritora

Taís Kerche, Digestivo Cultural

“Eis aqui um exercício de metalinguagem. Escrever sobre o ato de escrever. O meu ato de escrever. Tão particular e tão íntimo. Pura introspecção cheia de prazer. O Word aberto, uma tela branca e os dedos no teclado. Tudo parece quieto, mas, na realidade, a mente está a mil por hora, procurando um começo, um meio e um fim. Coesões e coerências. De preferência em períodos curtos, leves, sonoros. Adjetivos, substantivos, vírgulas, sujeitos, conjugações verbais. Tudo isso pensado automaticamente, rapidamente, artisticamente.

Mas nada se inicia sem os fones de ouvido que reproduzam alguma música estimulante, que combine com o astral do dia ou com o tema do texto. Sem eles não há jeito de encontrar o ritmo da escrita. Da música clássica, passando pela bossa nova, chegando num chorinho e, uma vez ou outra, até um rock, para estimular algum lado meu um pouco mais agressivo. Só depois de colocados é que a mente se liberta para dedilhar no teclado as primeiras frases das primeiras ideias que vão surgindo aos poucos. Sinto que a música tem o poder de isolar a minha mente do mundo externo. E o mundo das ideias vai ganhando espaço no mundo das letras.

Mas, antes de colocar os fones, leio alguns textos. Na realidade, alguns trechos de textos. Principalmente dos meus. Este ato é uma forma de me reencontrar com o meu eu escritora. Afinal, desenvolvemos muitos "eus" nessa vida, e o escritora acaba perdido em algum canto, deixado de lado por alguns dias ou às vezes horas e, dependendo da fase, por meses. Ao reler meus textos, acabo o achando, o tiro do canto e o coloco na ativa, intensamente, mesmo que esteja em um dia preguiço ou em outro mais ansioso. O importante é tirá-lo da inércia.

Também procuro ler alguns trechos de outros escritores a fim de buscar inspiração. Ao observar outros tipos de escrita, outras maneiras de abordagem de temas, acabo me entusiasmando com as possibilidades criativas e tento colocar a minha em prática. Não tenho nenhum escritor obrigatório, prefiro os cronistas e colunistas. Simpatizo com textos que abordem temas do cotidiano com uma linguagem leve e despretensiosa. Que me inspirem a olhar para o meu dia a dia e ver nele prosa e poesia. E assim tentar colocar um pouco de literatura nos meus textos.”
Artigo Completo, ::Aqui::

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