A nova queda da Bastilha

Gian Danton, Digestivo Cultural

(...)
“O filósofo canadense Marshall McLuhan dizia que pouco importa o que os meios de comunicação de massa dizem. O que realmente importa é que eles existem e, como tal, mudam a cabeça das pessoas.

A imprensa mudou o mundo. Como o povão não sabia falar latim, os editores publicavam seus livros em línguas locais, o que reforçou as identidades nacionais, abrindo caminho para os reinos absolutistas. A mesma imprensa abriu caminho para a revolução francesa, ao permitir a mobilização de multidões (não por acaso, todos os líderes revolucionários eram jornalistas). Posteriormente, o rádio, o cinema e a televisão também mudaram o mundo. O rádio e o cinema foram usados de forma competente pelos nazistas para criar uma multidão de zumbis prontos a acatar qualquer ordem do führer. A cena do filme O Grande Ditador, do Chaplin, em que o discurso do tirano pelo rádio se reflete instantamenteamente no barbeiro judeu é uma imagem-símbolo desse poder das mídias, usado de forma tão nefasta por Hitler.

A televisão mudou o mundo a partir da década de 1960. De uma hora para outra, pessoas podiam ver e ouvir informações de qualquer lugar do mundo, criando condição para aquilo que McLuhan chamou de aldeia global e quebrando o mundo inventado pela imprensa. Os protestos contra a Guerra do Vietnã foram um reflexo dessa aldeia global que começava a surgir naquela época.

Da mesma forma que a imprensa, o rádio, o cinema e a televisão, a internet está mudando o mundo, talvez de forma mais radical do que jamais aconteceu. O mundo está se tornando cada vez mais virtual. As pessoas namoram pela internet, compram pela internet, fazem amizade pela internet e até mesmo protestam pela internet. Na verdade, até mesmo o voto tornou-se virtual. O que é a urna eletrônica senão um voto virtual? Não existe voto físico, mas mesmo assim ele é real, ainda assim é capaz de eleger uma pessoa e mandar outra para o ostracismo.

Para a nova geração, as coisas não precisam vir para o mundo concreto para existirem. Uma amizade pode viver anos só no Orkut e no MSN, sem que as duas pessoas se encontrem. Já existem até mesmo namoros puramente virtuais.

Recentemente, até a bolsa de valores se rendeu à internet, acabando com os pregões físicos. Agora todas as operações serão virtuais.

Para a nova geração, nativa da internet, não é necessário ir às ruas para demonstrar seu descontentamento. Mas essa geração tem um poder fenomenal de produzir virais, mensagem que se espalham continuamente. Tanto que a tag #forasarney foi uma das mais difundidas do mundo, mesmo com a concorrência da morte de Michael Jackson.

Há 220 anos, os franceses revoltados e insuflados pela imprensa invadiram e tomaram a Bastilha. Foi um evento que mudou o mundo. Começava ali a era moderna. Naquele mesmo dia era seputada a Idade Média. A Revolução Francesa mudou tudo: criou a república, institucionou a ideia de Rousseau de que o governo emana do povo. Até a moda, a música e a literatura foram transformados com a queda da Bastilha.

Em 1789 as pessoas precisaram se juntar fisicamente para provocar mudanças. A nova queda da Bastilha vai ser virtual. Só os dinossauros não perceberam isso ainda. E, pelo jeito, o Senado está cheio de dinossauros.”
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