Da próxima vez que encontrar um poeta

Urariano Mota, Direto da Redação

“Na próxima vez em que encontrar um poeta, olhe-o por inteiro. Não lhe pergunte por que ele faltou a compromissos assumidos antes com você. Ele tem lá suas razões. Ele pode ter faltado ao encontro por algumas razões primárias, básicas, simples, como ganhar dinheiro para beber, comer, pagar contas e aluguel. Ele pode ter faltado por essas razões que todos alheios à poesia pensamos que os poetas não têm, ou não podem ou nem devem ter. Ele pode ter faltado ao encontro por razões até menos primárias. Como, por exemplo, um encanto súbito pelos olhos de uma jovem. Ou um copo de cerveja em uma conversa tão boa quanto inadiável. Ou até mesmo, imagine, por estar amargando uma dor por não conseguir aquela forma sonhada para um poema. Por razões, em suma, estúpidas, idiotas, imbecis, que pessoas sérias, práticas, desprezam porque não aparecem nas páginas do guinness, não geram notícias, nem fazem renda no fim do mês.

Na próxima vez em que encontrar um poeta, você pode no máximo sentir-se um igual a ele. Igual a um homem como somente outro homem pode ser. Por isso olhe-o bem com atenção. Você está diante de um espetáculo raro, talvez único, insuperável. Você está diante de um criador que antes de justificar um lugar no céu, justifica um lugar junto aos malditos. Junto aos mendigos, aos párias, a quem ele se assemelha muitas vezes pelo estado em que se encontra. Ou junto aos santos, aos iluminados, de quem muitas vezes ele se aproxima pelas realidades que descobre. Ou junto aos demônios, aos senhores das luzes dos infernos a quem muitas vezes ele se avizinha pela vida que leva. Ou até mesmo aos descaídos, aos homens caídos em desgraça pela fraqueza, de quem ele se aproxima por empatia e semelhança. Na próxima vez em que encontrar um poeta, preste muita atenção, porque você está diante de uma soma de humanidades.”
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