Internet repercute, fortalece e não mata jornais impressos

Os jornais impressos vão sobreviver, como o rádio e o vinil, mas terão, obviamente, de se reinventarem, guardando o que têm de melhor — a tentativa rigorosa de descrever e entender o mundo no qual vivemos

Euler de França Belém, Revista Bula

Nas décadas de 1960 e 1970, ouvia jogos de futebol nas ondas da Rádio Globo. Era tão íntimo de Pelé, Carlos Alberto, Jairzinho e Tostão quanto dos narradores esportivos Jorge Cury, Valdir Amaral e Antônio Porto e do comentarista de arbitragem Mário Vianna, com dois “enes”, como fazia questão de esclarecer. Cury, Amaral e Porto não eram apenas narradores competentes, que entendiam mesmo de futebol. Eram escultores de jogos, que, nas suas vozes perfeitas, ficavam mais limpos, melhores e, igualmente importante, emocionantes. Vianna, com seu grito de “ladrão”, era impagável. Em 1970, assisti a Copa na casa dos amigos Iodete e João Borges. Nos dias de jogo, a casa era transformada em estádio, tal a quantidade de torcedores. As imagens não coloridas do televisor não eram perfeitas e às vezes a bola se confundia com os chuviscos, mas ninguém ligava. Era perfeitamente possível ver Brito, Felix, Pelé, Tostão, Jairzinho, talvez o primeiro filho do vento, Clodoaldo, Rivellino e Piazza. Porque, maiores do que a bola, os chuviscos não conseguiam escondê-los. A televisão, pensava-se então, era o futuro, embora eu, menino, ainda sem formular teses, fosse apaixonado pelo rádio, para ouvir música e futebol. A imagem forçou o narrador a um realismo que, não raro, esfria as partidas. O segredo do sucesso de Osmar Santos talvez possa ser detectado no fato de que combinou a vibração do rádio com o verismo da imagem televisual. Galvão Bueno tenta ser vibrante, mas é uma vibração de vitrine. Se Osmar era um diamante, Galvão é uma bijuteria, o que não quer dizer que seja ruim. Galvão é vítima de preconceito por ser excessivamente identificado à TV Globo. Ele é a Globo no esporte. Os narradores e comentadores do rádio, que tinham de fabricar as imagens para o ouvinte, não mentiam, apenas exageravam. Eram quase ficcionistas, mas nós adorávamos. As bolas quase sempre passavam raspando a trave e o ouvinte chegava a encostar o rosto no rádio para escutar melhor e sentir o frêmito narrativo.

Com a ascensão e consolidação da televisão, se vaticinou, em verso e prosa, que o rádio desapareceria. Tal não aconteceu. O rádio modernizou-se e está mais vivo do que nunca. Porque o rádio reinventou-se e ampliou o contato com o ouvinte, tornando-o uma espécie de membro do “clube”. Nem sempre os radialistas acertam, mas no geral o rádio é um espetáculo. É um circo sem palhaços e animais. Um circo moderno. Um circo que, às vezes, valoriza o poder da palavra. Não é à toa que os evangélicos dão uma importância tremenda ao rádio.”
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