Bandido por um dia

Marcelo Cury / Sítio: Wanderley Nogueira

“São Paulo. Tenho parente e amigos policiais militares e sei a tarefa árdua que esses profissionais enfrentam diariamente. Mas sei também que muitos policiais (uma parcela pequena, é claro) não honram a farda dessa instituição centenária.

Todos nós já ouvimos, e ainda iremos ouvir estórias absurdas sobre o comportamento inadequado de policiais no cumprimento do dever. Mas, pior do que ouvir e se indignar com isso, é passar momentos desagradáveis nas mãos desses policiais.

Foi nesta segunda, 05, às 13h30 aproximadamente. Eu estava caminhando na Avenida Pompéia, em Perdizes, após um delicioso café da manhã no Fran's Café. Estava de folga. Mas, mesmo assim, com o celular em punho estava registrando flagrantes de desrespeito ao Código de Trânsito Brasileiro, por estar em uma região pouco freqüentada por mim. Na altura do número 1.709, eu passei por uma viatura da PM estacionada em cima da calçada na contramão. Os PMS estavam conversando dentro de uma revenda de automóveis. Como eu estava em local público, me achei no direito de registrar o fato. Ainda mais por ser um repórter de trânsito e possuir um blog de denuncia irregularidades. Sempre falo no blog que o poder público para ter o direito de punir, tem que dar o exemplo. Em caso de emergência, sim, o Código de Trânsito Brasileiro abre uma exceção. Mas, muitos funcionários públicos e até agentes da CET, por que não, banalizam esse tipo de conduta. Ao perceber que a viatura foi fotografada, o 3º Sargento Leovan Dias Santos, de uma maneira não muito amistosa, se aproximou de mim querendo saber do que se tratava. Eu expliquei que possuía um blog de trânsito e que registrava flagrantes pelo celular. Fui informado de que não poderia fazer esse tipo de serviço. Sem desrespeitá-lo o informei que poderia sim, por estar em local público registrando o fato de um agente público. Irritado, pediu os meus documento, o que foi prontamente atendido. Não satisfeito, pediu que eu entregasse o meu celular, o que foi prontamente negado. Claro, meus registros estavam lá, como poderia entregá-los ao policial. Ele tomou a minha atitude como desobediência e mandou outro policial me algemar. Eu comecei a exigir os meus direitos de jornalista, o de trabalhar sem ser ameaçado e intimidado. Mas em nenhum momento reagi ou ofendi a autoridade policial. Apenas dizia que não havia necessidade para tamanha violência. Não admitia agressão por parte dos policiais. Sim, porque para algemar eles aprendem que tem que dar uma chave de braço no meliante antes de apertar a algema (uma forma enrustida de tortura). Um terceiro policial, de bom senso, Nildo Jr., convenceu o sargento a tirar as algemas de mim, o que acabou ocorrendo. Sentindo-me um pouco menos marginal, esperei o superior averiguar o meu documento de identificação. Enquanto isso entregava a minha credencial da Jovem Pan ao Nildo Jr.

Chegaram a me acusar de portar uma falsa credencial, acreditem se quiser. Estava totalmente a mercê deles. Após a consulta, o sargento falou que eu poderia me complicar se fosse levado ao DP, dando a entender que era melhor eu nada publicar e “morrer” a coisa por lá mesmo. Recusei-me, alegando que não fazia nada de errado e que não temia ser levado ao DP. Neste momento liguei a filmadora do celular e comecei a registrar a negociação. Percebendo minha atitude, o sargento tentou tomar novamente o celular da minha mão. Num gesto instintivo protegi o aparelho e comecei a ligar para a Jovem Pan a fim de relatar o que eu estava passando. Fui informado que eu não teria a direito de ligar, só poderia no DP. Foi-me dado voz de prisão por Desobediência, Desacato e Resistência à prisão. Na verdade, eu não resistia a prisão e sim protegia o celular que continham as provas que me seriam úteis, principalmente o vídeo. Eu queria apresentá-las no DP e não entregá-las ao policial. Fui jogado em um capô de um carro no interior de uma loja pelos três policiais. Mesmo algemado com as mãos pra trás, segurava com força o celular na mão esquerda. Torceram o meu dedinho até conseguirem pegar o aparelho. Estou com o dedo bastante inchado, sem poder dobrá-lo. Apertaram ao máximo a algema e me jogaram dentro do porta-malas adaptado de um veículo Corsa (espaço pequeno e totalmente lacrado, sem ventilação).”
Relato Completo, ::Aqui::

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