"Bastardos Inglórios" chega perto da obra-prima


André Setaro, Terra Magazine

“O cinema de Quentin Tarantino é uma 'farra' de referências e de alusões cinematográficas, um cinema construído com a memória dos filmes vistos que se reprocessam na estrutura narrativa de seus filmes. O que poderia parecer, à primeira vista, uma colcha de retalhos, uma miscelânea, adquire, porém, um vigor próprio, e se conflui num estilo particular a ponto de se sentir em seus personagens um "homus tarantinianus".

"Bastardos inglórios" ("Inglourious Basterds", 2009) é, a rigor, um filme sobre cinema, uma festa para os cinéfilos, 153 minutos de ação e emoção, e as influências do autor, adquiridas na visão obsessiva de filmes e filmes, adquirem, aqui, um caráter, poder-se-ia dizer, de "fraturas expostas". Mas o que Tarantino recolhe de sua memória, de seus "recuerdos", enquanto espectador, é um material que sofre um processo de manipulação, de marchas e contramarchas, de subversão dos clichês (não apenas pela pretensão de subvertê-los, mas como um recurso de seu estilo, de sua maneira de pensar e refletir o cinema visto), uma manifestação ou, mesmo, uma declaração explícita de amor a determinados "modos" de fabulação e, mais importante, da maneira pela qual o específico cinematográfico é "posto em cena." O resultado de "Bastardos inglórios" é uma obra que revigora e que vem atestar a criatividade num momento em que a arte do filme se encontra no atoleiro da mesmice e da inexistência de inventores de fórmulas.

A apontada subversão de clichês se dá, na estrutura narrativa de "Inglorious basterds", pela frustração das expectativas convencionais. Quando o filme parece que se encontra a tomar um rumo determinado, há uma reviravolta capaz de frustrar o espectador habituado à convenção da linguagem cinematográfica e de levá-lo a ter uma surpresa. Tarantino manipula a "mise-en-scène" com um objetivo bem precípuo: o de dar ao espectador o prazer do cinema e fazer deste um exercício de liberdade criadora.

Uma subversão, por assim dizer, partida mesmo do próprio "plot". A ação, que transcorre durante a Segunda Guerra Mundial, as costumeiras vítimas dos filmes de guerra da época, os judeus, assumem, em "Inglorious basterds", a condição de vingadores brutais num processo de inversão. A Alemanha ocupa a França da liberdade, igualdade e fraternidade, e, nos seus primeiros anos, uma mulher, Shoisanna (Mélanie Laurent) testemunha a execução de sua família pelas mãos do coronel nazista Hans Landa (Christoph Waltz em interpretação impressionante). A judia sobrevivente ao massacre, no entanto, consegue escapar e foge para Paris, onde muda o seu nome e assume a identidade de uma dona de um cinema 'poeira'. Em outro lugar da Europa, o tenente Aldo Raine (Brad Pitt, outra excelente composição de personagem e mais impressionante ainda em se tratando de Pitt) prepara um grupo de soldados judeus americanos, "os bastardos", que objetiva espalhar o terror contra os alemães e eliminar os líderes do Terceiro Reich.”
Foto: Reprodução
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