Raios, trovoadas e técnicos de informática

Ana Elisa Ribeiro, Digestivo Cultural

“Um raio desses enviados por São Pedro e minha placa de rede se foi. Aproveitando que a máquina já não era mais aquela, resolvi turbinar e tunar meu computador. As máquinas de escrever (datilografar ― algo que, na etimologia, continuamos a fazer) duravam mais. Até a vida inteira. Já troquei de computador incontáveis (e incontornáveis) vezes nesses quinze anos de "popularização da informática". E esta é minha enésima torre para um computador de mesa (em que escrevo bem mais confortavelmente do que em portáteis).

A placa de rede estava em curto-circuito. Umas coisas piscando sem parar, outras continuamente acessas. Tudo anormal. Uma peça esquentando demais. O pânico só não me acometeu porque eu havia feito cópias de segurança dos arquivos e, além do mais, o raio não queimara a máquina, apenas a placa que me liga à internet. Arre! Mas isso é muita coisa, camaradas. Ficar sem internet, hoje, é como estar alijado de um universo em que tudo acontece: trabalho, amigos, diversão, contatos, passado, presente e futuro, não necessariamente nessa ordem.

A decisão de desconectar tudo e correr para a assistência técnica mais próxima não podia demorar muito. Sem placa, nada de e-mails. Talvez essa fosse a questão mais grave. Em momento crítico da organização de várias coisas importantes, não ter e-mail é quase a falência dos eventos. A assistência técnica é ali na esquina, literalmente. O custo de vida aqui é menor do que em outras zonas da cidade, sem faltar nada, nem sobrar, o que também é importante. Os meninos que nos atendem na lojinha são caladões, mas resolvem nossos problemas com alguma eficiência. Talvez essa mesma eficiência custasse três ou quatro vezes mais em outro lugar.

Quem vai consertar computador está sempre com pressa, digo, a vítima. É como prestar serviços de revisão, em qualquer setor. As pessoas chegam contando histórias trágicas, de prejuízos e de prazos. O técnico que se vire com tanta encrenca alheia. Fiz o mesmo. Contei casos de prazos e projetos que poderiam ir por água abaixo. É claro que o técnico manteve um sorriso sutil no canto da boca, mas fez cara de quem compartilhava comigo aquela dor de não poder ler e-mails. Quase cheguei a pensar que o havia convencido de que minha máquina merecia mais e mais urgente atenção do que as tantas outras que deviam estar ali no andar de cima, na "oficina". Fiz a pergunta D: "Quando fica pronto? Hoje?". Ao que ele respondeu com um mal-disfarçado risinho de escárnio: "Amanhã ou depois, porque tem um bocado de máquina na frente". Pelo menos não me chamou de "dona". Já me dei por satisfeita. Esses meninos são educados, negociantes educados.”
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