Vida besta

Márcia Denser, Congresso em Foco

“Jamais pensei entrar numa livraria e não querer comprar nenhum título em exposição, mas foi exatamente o que aconteceu ao passear pela book shop da sala de embarque do aeroporto Santos Dumont, voltando para São.Paulo da Bienal do Livro no Rio. À vista, nenhum elemento de ficção em meio a dezenas de auto-ajudas fajutíssimas, market neoliberal, cem mil maneiras de gastar papel, tinta e jogar meu dinheiro fora no formato 14X21, pocket ou capa-dura.

Naturalmente nem pensar nas revistas tipo Caras, Poderosos, Bons Fluídos, Boa Forma, Bravo, Criativa, Cosmopolitan, Casamento, Corpo, Cabelos, Casamento, Exame, Época, IstoÉ, Veja, Vida & Saúde, Vida Simples, Women’s Health, CAR, COOL, RUNNING, VIP, UMA. Me senti literalmente desesperada no meio disto e a perspectiva de duas tediosas horas sem nada para ler. Até porque ler isto te deixa besta.

A escritora Marina Colasanti definiu bem essa sensação quando diante da estante promocional da Barnes & Noble na sétima avenida em Nova York[1]. Sob o rótulo “Fábulas da Mulher Moderna” proliferavam os seguintes títulos: Slave of fashion (Escrava da moda), Good in bed (Boa de cama), Filthy rich (Terrivelmente rica), The accidental virgin (A virgem acidental), I do but I dont’ (Eu faço mas não faço), The dominant blonde (A loura dominadora), The dictionary of failed relationships (Dicionário das relações fracassadas), ao todo 36 livros na mesma linha. De deixar qualquer um maluco, uma lobotomização definitiva a preços imperdíveis.

E todos prometendo “muita diversão”, se dizendo “engraçadíssimos”, que as leitoras iriam “morrer de rir”. Naturalmente, eu e Marina não achamos graça nenhuma, porque só podemos interpretá-los como sismógrafos da presente “falta de espírito de época”, ou ausência absoluta de “presença de espírito” – e isto seria um mero jogo de palavras não fosse a “presença de espírito” a pré-condição do humor genuíno.”
Artigo Completo, ::Aqui::

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