A mulher-objeto de SP

Eduardo Guimarães, Cidadania.com

“Agora é oficial: se você é mulher e mora em São Paulo, saiba que, nesta terra de hipocrisia sem fim, você é nada mais, nada menos do que um objeto, um ser que deve medir cada palavra, cada gesto, cada decisão sobre a própria vida pela ótica hipócrita do homem, que só exige comportamento "recatado" das mulheres nos intervalos de suas caçadas sexuais.

A universidade Uniban expulsou a estudante de turismo Geisy Arruda por sua "sindicância interna" ter concluído que a moça foi a culpada por setecentos alunos terem-na hostilizado aos gritos e lhe ameaçado a integridade física. A instituição justificou dessa forma sua decisão em nota publicada neste domingo em jornais paulistas. Geisy seria provocante demais.

Numa sociedade como a paulista, esse moralismo chega ao pior ridículo. Dêem uma voltinha pelas imediações dessas universidades particulares de São Paulo e encontrarão meninas e meninos usando drogas e até fazendo sexo nos carros. Em seguida, os que fazem e os que não fazem isso entram em aula e se escandalizam com o jeito da menina andar e com o comprimento de seu vestido.

O fato é que as setecentas famílias dos setecentes energúmenos que protagonizaram as cenas de horror que vocês viram há poucos dias devem ter caído matando na direção da Uniban ameaçando tirarem seus filhos coletivamente de lá se a cabeça da Maria Madalena paulistana não lhes fosse entregue.

Mas o moralismo de atirarem a primeira pedra nas roupas de Geisy, na sensualidade de Geisy, é efeito, não causa. Ser mulher, em São Paulo, é não ter direitos como o do homem.

A ex-prefeita Marta Suplicy, por exemplo, caiu em desgraça quando decidiu separar-se do senador Eduardo Suplicy. A elite local ordenou à ralé que se arrasta aos seus pés que passasse a tratá-la como "vagabunda". Durante a campanha eleitoral do ano passado, o jornal Valor Econômico tratou do assunto num excelente trabalho jornalístico sobre as novas Senhoras de Santana.

Cabe agora, portanto, não só ao Judiciário, mas acho que até ao Ministério da Educação reparar esse absurdo. E tem que ser logo, pois a própria nota da Uniban divulgada neste domingo nos jornais paulistas serve de confissão de culpa de violação de cláusula pétrea da Constituição brasileira.”

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